A ligar ideias: escrever uma contracapa; e produzir uma capa

Miguel Francisco

Para a escrita da contracapa usei um livro que, no ano passado, me deu algumas dores de cabeça a fazer a sua revisão para a editora Cordel d’ Prata. Os temas tabus aqui imiscuídos de forma a contar uma história de amor são o suicídio e a automutilação. Como tal, quando me preparava para escrever o exercício da contracapa, lembrei-me das primeiras palavras do Albert Camus no livro O Mito de Sísifo sobre o suicídio, e dada a importância de quem o diz acerca do que é discutido, julguei ser pertinente acrescentar a citação no topo da contracapa; sobre a automutilação, a autora descreve-nos este transtorno psicológico precisamente na “nota da autora”, no final do livro, e por estar presente na vida de uma das personagens principais, dei-lhe destaque inserindo a respectiva frase, desta vez, em baixo na contracapa. A meio, escrevi o “sumo” desta história, diria que mais sucintamente do que a sinopse, escrita pela autora, constante na edição que foi publicada este ano (deixo o link da obra em baixo para que possam também ver).

Para a produção da capa reciclei uma das ideias que tive para a contracapa, e optei por fazer uma recriação da capa d’O Mito de Sísifo do Albert Camus. O livro questiona o sentido da existência e explora o absurdo através de um mito grego: Sísifo passava os dias a repetir sempre a mesma tarefa de fazer subir uma pedra até ao cimo de uma montanha e vê-la rolar outra vez para baixo, num círculo vicioso. Assim, inspirado pelo absurdismo de Camus ao ver o Homem representado por Sísifo, pude visualizar um besouro em analogia com Sísifo e como metáfora para o Homem. Sabe-se que os insectos eram regularmente lembrados nas obras surrealistas, o que nos pode fazer associar ainda mais facilmente o besouro a Sísifo, que, à semelhança do último, vive com o hábito de fazer rolar, ao invés da pedra, fezes de outros animais.

Já agora, pergunto-vos com alguma curiosidade, qual destas propostas gostam mais? Também se não gostarem de nenhuma é legítimo dizer.

https://cordeldeprata.pt/livraria/black-heart-ii/