sábado, 31 de outubro de 2020

0.1. O que é Editar?

Manuel Afonso


Como sou editora e não sou pela censura acho necessário que estes livros reapareçam nas livrarias. Mas com um aviso ao leitor, um prefácio que contextualize e que explique a polémica que se gerou e porque é que é necessário publicá-los para mostrar como a sociedade evoluiu. Que explique que num determinado momento tolerávamos certos escritos e opiniões intoleráveis, e que hoje a sociedade não as tolera mais."


Gabriel Matzneff tem hoje quase 85 anos. É um escritor francês com uma extensa obra, que atravessa a segunda metade do século XX até à actualidade. Em 2013 foi vencedor do Prémio Renaudot, um dos mais importantes prémios literários de França. Matzneff é pedófilo, assumido. Publicou diários íntimos em que se gabava das relações tidas com crianças. Foi inclusive activista pela pedofilia, lutando para ver este crime aceite como um tipo de diversidade sexual legalmente reconhecida.


Vanessa Springora, editora e autora, foi um dos seus alvos. A citação que abre esta nota é dela. Springora tinha 13 anos, ele 50. As marcas destrutivas desta “relação”, diz, persistem até hoje. Agora publicou e editou um livro assumidamente autobiográfico, sobre essa experiência: Consentimento. As suas reflexões são várias e podem ser lidas em entrevistas, além do próprio livro. Algumas delas cabem no nosso tópico: o que é editar?


Ainda não pude ler o livro mas não pude deixar de comprá-lo, no mesmo dia em que li a crítica e a entrevista que cito, ambas no Ípslon. Vi num documentário da Netflix (Os Dilemas das Redes Sociais, que recomendo) que, para muitos dos utilizadores de Facebook e Instagram, receber likes liberta endorfinas e, portanto, vicia. A mim são os livros que me causam esse efeito e as palavras de Springora ao Ípslon despertaram em mim a atração irresistível do adicto. Mas não precisamos de ler Consentimento para entender que esta história, a que o livro conta e a do livro em si, sendo sobre muitas coisas, é também sobre edição.


Como foi possível, durante décadas, editoras e editores consentirem em publicar livros autobiográficos que consistiam não só na apologia mas na confissão de um crime hediondo? O que fazer hoje, com as obras de Matzneff? Poderá Edição rimar com Reparação?


Springora dá-nos algumas pistas. As suas reflexões são triplamente importantes, como sobrevivente, como autora e como editora. Ela opõe-se à censura, defende antes a contextualização. Mas não se opõe à Ética e à Responsabilidade:


Enquanto editora, se tivesse recebido estes textos nunca os teria publicado. Não se trata de censura, é a censura pessoal, enquanto editora que tem uma ética própria, de responsabilidade perante os leitores.


A autora acaba por levar a escrita, a publicação e a edição para um outro plano. Ao reescrever a sua história, ela intervém, não no papel mas na esfera pública, sobre a obra e o percurso de Matzneff. Contextualiza, enquadra, media – edita.


O que ela pretende não é vingança. Nem tão pouco é justiça, no sentido judicial da palavra: O que me interessa hoje são os símbolos, não é a caça ao homem, não é colocar na prisão um senhor que tem 84 anos, que está doente e que provavelmente se tornou inofensivo.”


As últimas palavras do prefácio de Consentimento são a confissão de um propósito: “apanhar um caçador na sua própria armadilha, prendê-lo num livro”.


Um livro pode ser uma armadilha. Pode ser redenção e reparação.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Servir dois senhores e outras anotações

Francisco M Rúbio


 A tecnologia pode destruir vidas. Uma câmara no sítio errado junta-se à ligação errada e o que se queria privado torna-se público de Nova Iorque para o universo. O chamado do it yourself da cancel culture. A cultura de anular alguém por aquilo que faz e socialmente não é aceitável devia ser sinónimo de evolução. Mas evolução também significa que deve haver espaço para todos, ou não?


O que aconteceria se soubéssemos tudo acerca de uma pessoa antes de a contactarmos? Será que através de uma capa já lemos o livro inteiro? A edição também serve para mostrar apenas o que queremos que seja percebido.


Os mestres entram pelo Nimas adentro. Na sala ecoa agora o metal das espadas a cortar convenções e a levarem-nos até ao Japão de Kurosawa. A excelência nipónica numa sala de cinema de autor com um público que aprecia cinema. Ao contrário dessas grandes salas, com marcas patrocinadas, pipocas estridentes e seleccão de filmes para as massas, esta sala não se encontra vazia. Vantagens de ser pequeno? O risco, pois claro.


Como vemos, o tamanho afinal importa. A Feira do Livro de Frankfurt é o maior encontro literário do nosso planeta. Foi adiado o evento físico deste ano, pois com esta dimensão nem se poderia arriscar. 


E se em Portugal somos tão pequenos, porque arriscamos tão pouco?


Por cá, afinal há quem arrisque. Sem máscara e tentando explicar o que o mundo inteiro não percebeu: a pandemia é afinal uma conspiração chinesa financiada pelas famílias capitalistas que dominam o universo a partir da Rússia. Confusos? O professor Marcelo também. Como fala o spot da Folha de São Paulo: 


“É possível contar um monte de mentiras só falando verdades”.


Num documentário nobre em horário pobre, Jonh Steinbeck e o seu romance hermético “As vinhas da ira” fazem-me descobrir que SPAM era uma carne enlatada produzida em massa e sensaborona. Luto contra a minha caixa de e-mail que insiste em acumular mensagens destas ao invés de surpresas apelativas. Este livro, “As vinhas da ira”, discorre sobre o sofrimento de uma minoria perante a cegueira colectiva de uma América hollywoodesca, por oposição a best-sellers que pululam nas estantes dos tops literários portugueses, onde Auschwitz é metier para toda uma normalidade romanesca que traduz tragédia em normalidade, para conseguir meter comida na mesa de todos.


Fontes:

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/marcelo-da-aula-a-negacionista-da-covid-19-que-nao-usa-mascara

Julgar livros pela capa?

Filipe Heath




A Curse of Roses da Diana Pinguicha vai ser lançado em Dezembro de 2020 nos Estados Unidos e felizmente tive a oportunidade de lê-lo no mês passado porque conheço a Diana e ela decidiu enviar-me uma cópia antecipada.
Para além de ter esta capa magnífica, as páginas que vêm depois da capa conseguem ser ainda mais bonitas. Se tiverem interesse em ler um reconto do Milagre das Rosas com personagens queer, recomendo. 



Li The Memory Police este verão por parte de um projeto pessoal que consiste em ler os livros nomeados para o Man Booker Prize 2020 escritos por autores não brancos. Poucos dias depois de ter terminado a leitura foi lançado um artigo no Observador a informar que este livro vai ser lançado em Portugal no próximo mês de Novembro pela Relógio d'Água. Nunca tinha lido nada parecido a este livro, foi uma aventura que pretendo repetir ou até mesmo ler mais livros da autora. 






Eis a minha leitura do momento. Confesso que não costumo ler muitos autores portugueses e sinto que é uma falha nos meus hábitos de leitura portanto em 2020 tenho feito um esforço para apoiar mais autores portugueses. Durante a primeira quarentena tive a minha experiência inicial com Tordo e foi razoável pois tinha grandes expectativas e fiquei um pouco desiludido. Como tenho vários amigos que me recomendaram este livro decidi dar mais uma chance ao autor e até agora não me arrependo. 








Já consegui perceber que esta capa não me marcou apenas a mim mas também a alguns dos meus colegas e realmente merece todo o reconhecimento que tem recebido ao longo destes últimos meses. Tenho de  confessar que ainda não li este porque a lista de leitura é infinita e infelizmente não consigo ler 24 horas por dia mas vai certamente ser das minhas próximas leituras. 






Por último mas não menos importante, Ring Shout. Na verdade talvez seja até a capa mais importante deste post. Porquê? Eu julguei este livro pela capa. É extremamente chamativa pela alusão ao KKK, no entanto, nesta novella os KKK são retratados como monstros que por sua vez são a personificação de ódio e discriminação contra pessoas negras. 

 



Confinamento Colonialista

Filipe Heath



quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Cartoon: Retrospetiva de um Halloween pré-Covid

 

Miguel Francisco



Capas capazes

 


Julia Roveri

Devo dizer que este exercício de procurar capas que me chamassem a atenção em livrarias foi mais surpreendente do que pensei que seria. Como leitora, acredito ter desenvolvido –  como muitos – ao longo dos anos uma espécie de “faro visual” para os tipos de livro de que gosto, mas tentar compreender mais a fundo os motivos desta atração tem sido fascinante. Recordo-me assim de uma das nossas aulas anteriores, em que um dos temas centrais foi o autoconhecimento. Para facilitar a visualização, resolvi juntar todas as capas em uma só imagem, e as agrupei em algumas categorias, que vêm a seguir:


A)      Capas com fotografia: números 1 e 2

Os livros O mais sutil é a queda (1) e Ser quando (2) se utilizam da fotografia nas capas de maneiras diferentes: o número 2 privilegia a fotografia quase em sua totalidade; trata-se de um muro lilás pelo qual algumas plantas sobem. Este é um livro de poesia, portanto creio que a escolha da capa foi acertada por causa de sua simplicidade e beleza.

Já a capa de número 1 conta com uma montagem mais sofisticada: os editores utilizaram a parte superior da capa para destacar o nome da autora e o título do livro. A fotografia em questão é uma sobreposição entre duas imagens: a de cima parece ser uma instalação artística, enquanto a de baixo mostra um casal com roupas de outra época caminhando num jardim. O homem tem seus olhos encobertos pela sobreposição da outra imagem, e a mulher está numa posição curiosa, em meio a algum movimento que não se identifica bem. Para mim, a junção desses três elementos –  título, primeira foto e segunda foto – formam um conjunto interessante a quem o vê pela primeira vez.

 

  B)      Capas gráficas: números 3, 4 e 5

As capas 3 e 5 foram feitas completamente por softwares, ou seja, não contam com o suporte de nenhuma imagem ou desenho como base. O interessante da capa número 3, cujo título é Pré-história, para mim consiste na forma central de um barco a remo: este contém o detalhe de que não se consegue determinar se ele está sendo visto de um ângulo de cima ou de baixo, já que o fundo é azul, cor escolhida precisamente para realçar esse efeito. O nome da autora e o título estão como que flutuando nas águas, e por isso fogem a um padrão mais centralizado de apresentação.

Na capa de número 5, 33 poesias, de Vladimir Maiakóvski, forma-se uma espécie de caixinha ou de monóculo dos anos 60 para a qual todo o foco do leitor se dirige, e na qual vemos o título da obra.

O número 4 também se insere nesta categoria pelo fato de ser uma elaborada colagem com elementos variados: estátuas, folhas soltas, calendários, protestos. A base de sua criação conta com imagens, mas a sua identidade visual consiste muito mais nesta confusão e mistura de gravuras do que no foco em uma só imagem eleita para destaque.

As três capas prezam pela simplicidade e creio que conseguem cumprir seu objetivo de voltar o olhar do leitor para onde se deseja.


C)      Capas de Banda desenhada ou Quadrinhos: números 6 e 7

Creio que não seria exagero afirmar que o critério maior para que uma capa de banda desenhada se destaque é o traço, o estilo do desenhista. Na capa de número 6, os editores optaram por deixar o título e subtítulo no alto da capa, bem legível, e reservar o restante do espaço para o desenho. Acho esta capa particularmente interessante por causa do contraste entre o título (Fun home) e a impressão que a imagem nos dá: o completo oposto de uma casa divertida, a composição monocromática em azul com uma figura de pose austera, lendo solitário cercado de mobília antiga, etc. Ao ler a sinopse da obra, vemos que tudo isso se alinha com a narrativa.

O sétimo livro escolhido, Paper girls, mostra um grupo de meninas de frente, com expressões de desafio. São as protagonistas, e esta abordagem direta resume muito bem a história que está por vir depois da capa. O único tom de azul que as colore contrasta bem com o fundo em dégradé, e este efeito não só destaca bem o livro, que está sempre junto de seus pares extremamente multicores, como também faz sentido em termos de narrativa.

 

      D)     Capas baseadas em quadros, números 8 e 9

As duas capas selecionadas para esta seção seguem a mesma lógica da categoria A (capas com fotografia):  as duas se baseiam em quadros, mas de formas distintas. No número 9, a capa de Ficções é montada a partir de um quadro de Bosch – ótimo diálogo entre artistas, aliás. Mais curioso ainda: o que figura na capa na verdade trata-se de uma parte ínfima de uma obra do pintor holandês, mas que cai como uma luva para a capa desta obra em específico. Na minha opinião, ficou igualmente atraente e interessante.

Na capa de número 8, porém, a composição da capa foi um pouco mais complexa: o capista também optou por utilizar uma parte de um quadro, mas modificou as cores para que estas se encaixassem nos tons do projeto do livro. Apesar dessa grande modificação na imagem, as grandes letras do título têm pouquíssima opacidade, novamente indicando que os editores valorizam o quadro eleito para capa.

 

E)      Capas dentro de uma coleção, número 10

O lado intrigante desta seção é que ela pode abarcar outros dos livros citados acima: nomeadamente, as capas de número 7, 8 e 9, pois todos estes figuram em coleções muito bem pensadas como um todo em termos de diálogo entre capas.

No entanto, para mostrar mais um exemplo, escolhi dois livros da Não edições: Autobiografia do vermelho e A beleza do marido, ambos de Anne Carson. Novamente a escolha de capas simples, dessa vez apenas com duas cores: o fundo branco e o título, nome da autora e imagens, estes últimos todos de somente uma cor – em um dos livros, vermelha, e no outro, roxa. No primeiro, a imagem central deriva de uma fotografia, e o segundo parece ser uma montagem de várias imagens – um rosto, uma bicicleta, um panfleto rasgado. A maior prova de que a ideia de coleção funciona com estas capas é inegável porque é impossível pensar numa sem fazer conexão imediata  com a outra.

 

É certo que não sou designer nem bastiã do bom gosto e também entendo que não sou o público-alvo de diversos gêneros de livros. É claro, portanto, que se uma obra não me atrai pela capa, há chances de que isso aconteça simplesmente porque ela não foi pensada para tal. E com isso vem outra reflexão: em nossa profissão, é provável que nem sempre possamos lançar livros com a capa que preferimos como indivíduos, mas sim observando quais são as capas capazes de mexer com a percepção dos leitores.


Aula 5: XXXtreme editing (o sumário)

TPC: Isto foi-vos dado para ler, mas só pela rama discutido em aula. Espreitem, é bem interessante: o estranho caso Gordon Lish/Raymond Carver

Há muitos artigos disponíveis online. Aqui ficam dois: The power of an editor; Amostras para comparação

Um poema de Carver que é uma tradução da voz alheia: 

You don't know what love is (an evening with Charles Bukowski)

2. Tu és o teu cartão de visita

2.1. Arenga do juiz ao júri nos filmes-de-tribunal americanos: «Os senhores por favor vão ignorar o que foi dito/mostrado nos últimos cinco minutos por este advogado maroto...» Mas claro que o júri não pode (a menos que esteja noutro filme, o dos Men in Black) esquecer de propósito o que viu/ouviu. 

Moral: tudo o que fazemos é trabalho. Não há acasos - o truque é treinar tanto que uma coisa treinada parece acaso. Tornarmo-nos naturais. E, como diria uma personagem num belo filme de Almodóvar, «Ai filhos, custa tanto ser autêntica. Esta anca, 75 mil pesetas. Operação ao nariz, 80 mil pesetas. Os seios, 100 mil pesetesas...» 

Autenticidade e narutalidade naturalidade trabalham-se. Era bom, se me contratassem para ir tocar piano numa festa e eu numa semana aprendesse. Ou, melhor ainda (mais lucro) só aprendesse cinco minutos antes de lá chegar. 

Ronaldo e Mozart têm isto em comum: ambos foram obrigados a praticar muito deste crianças. O privilégio de Mozart foi ter um pai músico, que ao ver que o miúdo tinha jeitinho o disciplinava e obrigava a fazer harpejos; o de Ronaldo foi ter pais meio ausentes, que não lhe podiam assegurar uma educação formal adequada e o deixavam na rua a jogar à bola. Por sorte, para este e outros craques, jogar à bola na rua não era brincadeira, era também fazer harpejos ao piano.

2.2.  Hermínio Monteiro, príncipe dos editores (1952-2001) e rei do sales pitch

Encontrávamo-nos no Bairro Alto. Conhecíamo-nos desde finais de 70, fizemos as víndimas em França juntos, ele era o rosto da Assírio & Alvim (e um belo rosto, parecia um assírio ou um fenício de Trás os Montes) e era um homem de abraços. Ainda bem que está morto, porque seria muito infeliz durante esta pandemia. Era uma das pessoas mais naturalmente afetuosas que conheci. Espontâneo, também. A Assírio foi a a grande editora independente durante vinte anos. Quando os direitos de autor se alargaram vinte anos, por causa da Europa, o espólio de Fernando Pessoa deixou de estar em domínio público - e um dos golpes de génio do Hermínio foi convencer a família a deixar a sua editora (que até então nada tinha a ver com Pessoa, só editara as cartas de amor com Ofélia) ficar com os direitos exclusivos. Antes, já tinha conseguido reunir um catálogo interessante: bons poetas, com Mário Cesariny e Herberto Helder à cabeça, os livros do então best seller Miguel Esteves Cardoso (o primeiro mupi em Portugal a promover um livro), uma rede de bons contactos com a imprensa, a ideia de que - para um poeta vivo - «publicar na Assírio»  era como, em França, ter a obra na Pléiade. Veja-se o que disse recentemente Lobo Antunes: «Entrar na Pléiade é como receber o Nobel»

Levei muitos anos a reparar que, quando o Herminio me encontrava às duas da manhã no Bairro Alto e me falava entusiasmente de «um novo autor», era sempre da casa e era sempre um livro acabadinho de sair. Nunca dormia, o raio do homem. 

2.3. Saramago, o homem com cara de tartaruga

Parecia uma tartaruga das Galápagos, daquelas que a evolução obrigou a ter um pescoço esticado. E não sou eu que o digo, mais de um cartunista o observou. Saramago era alto (a sua maior qualidade), seco (hoje uma qualidade, mas antes nem por isso), com um rosto fechado, boca larga sem lábios e, desgraça para um escritor (pior seria para um poeta), careca desde cedo. Não era de boas famílias (ao contrário de Sophia, Lobo Antunes e tantos outros), não era sequer burguês de pleo direito, e isso tornava-o um bocado o homem sem jeito. O seu contra-ataque? «Ah é, tenho cara de amanuense? Pois eu dou-vos o amanuense!» E até ao fim da vida andou, fato cinzento, camisa branca, gravata sem desenhos giros (esquilos, pandas, bandeiras do PC), óculos de massa, ar chato. Ah, mas depois quando escrevia e falava era tudo menos chato. E era arrogante, a defesa dos tímidos: eu sei que sei escrever e pensar, meninos. E, mais do que isso, sei ripostar.

3. A caça e a pesca

Na caça, nós vemos o alvo, sabemos para onde apontar, se falharmos é por o alvo estar demasiado em movimento, termos falta de pontaria ou o equipamento (o arco) não ser o adequado. 

Na pesca, também convém ter o equipamento adequado (temos sempre um leitor-alvo, temos sempre um plano), mas não sabemos onde estão os peixes - nem sequer se ali os há. (Ver o estranho caso da Byblos , a livraria inteligente.)  O trabalho em volta do livro é muito mais pesca; já a revisão é caça à gralha. 

É preciso um plano - ter o catálogo para 21-22 já fechado - mas ter a flexibilidade suficiente para o abrir, se surgir algo, e para aceitar que alguns livros (até por o idiota do autor ter uma crise da folha branca) vão falhar. 

Plano e capacidade de improviso são poderes complementares. Sem plano, ficamos curtos; se só cumprirmos o plano, curtos ficamos. 

Isto aplica-se a todas as áreas do trabalho editorial, desde a escrita à distribuição. 

Um livro pode sempre voltar à vida - ou porque um crítico o recuperou, ou porque houve filme, ou porqu o gosto da época mudou, etc. 

A verdade é que o nosso produto não é visto como necessário. É até percebido (injustamente, se compararmos com outros produtos) como caro. 

4. História da minha roupa e do meu relógio

4.1. O relógio é funcional e está sempre dez minutos adiantado. Um truque: quando vejo que estou em cima da hora fico em pânico (embora metade do meu cérebro saiba que está adiantado) e ganho dez minutos com os quais posso fechar o arco da aula, o plano que entretanto se desviou em voltas barrocas e notas de rodapé e intervenções extemporâneas de alunos (salvo erro, o Francisco) a perguntar o nome de uma nova editora do Portoi, a Bazarov. 

Tem algarismos árabes a preto sobre fundo branco porque é o mais fácil de ver discretamente. Já tive relógios giros, tipo um Swatch translúcido, mas não são práticos.

De caro, só tenho os óculos, dos quais preciso para ler e ver, e os sapatos, a única peça de vestuário que trabalha. (No meu caso, muito: 106 quilos de músculo cultural.) 

4.2. Todos escrevemos «para alguém». Podemos não saber muito bem para quem. Na linha de pesca, ponho isco para lírio (um belíssimo peixe dos Açores) mas o que vem à rede é carapau ou, pior, uma bota velha. Nunca sabemos quem é o auditório real (a triste história do meu filho de seis anos que apanhei a folhear a minha Playboy) mas devemos saber qual é o que esperamos/desejamos. Plano & realidade, plano & facto. O conto de Rubem Fonseca (no livro Feliz Ano Novo) sobre uma revista feminina onde todos os jornalistas são homens fingindo que são mulheres e onde depois descobrimos que os leitores também são todos homens e os que escrevem para o correio sentimental também são homens, embora (tal como os jornalistas) assinem como mulheres.   

Quando era só um canibal serial killer mau como as cobras, e apenas personagem secundária no romance Red Dragon, era Hannibal Lektor; depois Thomas Harris percebeu que tinha descoberto sem querer um filão, o homem virou canibal fofinho e essa mudança de personalidade foi acompanhada de uma nuance no nome: Hannibal Lecter. Continuava canibal e serial killer mas já só comia o fígado aos maus, por isso passou a ser boa pessoa.   

5. Concurso de legendas

O exercício de adequação, harmonia, coerência. Todos os participantes estão de parabéns, todos eram certeiros (e eu não tinha quaisquer dúvidas de que assim seria), uns puxavam a referências mais crípticas, outros mais limitadas no tempo, outros mais políticas, mas todos leram certeiramente a imagem. Agora é preciso um pouco de teatro na cabeça, e o Olavo (salvo erro foi ele) teve de repetir o tom com que falou, para o interlocutor entender melhor. 

Exemplos: o guionista e o desenhador, numa BD. O guionista, mesmo sem saber desenhar, também desenha. O outro depois reinterpreta e melhora, mas precisa de ter percebido bem a ideia do outro para a melhorar. 

O editor a explicar o livro ao capista, ao superior, aos vendedores, aos jornalistas.   

E ganhou a Júlia, com a Catarina a fazer troça de alguém muito respeitável a seguir. 

[Continua, se me/vos ocorrer algo mais.]


    

  

 



 

A Chegada ao Novo Mundo




                                   Karina Borges

Cartoon. Coloquei por engano no blog errado

  Bom dia, já recebi por mail uma das «soluçóes» para o desafio de ontem. Ponderei, e peço que não coloquem aqui no blog - enviem para mim. Eu começarei a colocar aqui nesta entrada a partir de domingo as que me forem chegando. 

O motivo: não sonegar a quem ainda não fez o exercício o privilégio de desfrutar dele. 

Como com um policial de que gostámos: contar o fim não é generosidade, é o oposto. 

Aqui não se trata tanto de dar a resposta certa, apenas de dar espaço para pensar. 

Este exercício (tal como muitos outros estupidamente simples e em forma de jogo) tem benefícios óbvios, para além daqueles que variam consoante a pessoa que somos. Exercita a adequação, o jeitinho para sermos fluidos, moldáveis, adaptáveis. Chip Kidd, na sua palestra, lembrou o que tinha aprendido numa aula de design: nunca mostrar a palavra maçã e uma foto de maçã ao mesmo tempo, porque isso é desrespeitar a inteligência do leitor - «e este merece mais». 

Imaginem que estes bonecos são o livro (o miolo, o texto do autor X) e os vossos balões são a capa  ou a contracapa ou (se formos mais longe) as soluções de edição do próprio texto a propor ao autor, que as aceitará ou não, consoante a relação de trabalho que tiver sido estabelecida. 

Editar é um trabalho que requer forças supostamente contraditórias: ser crítico e ser criativo. Apesar de, no limite, ser sempre mais design que arte, porque a forma está sempre atenta à função.   

P.S.) Agora fiquei na dúvida: «Chip Kidd, na sua palestra, lembrou» ou «Na sua palestra, Chip Kidd lembrou»? 


1. João Sardo Mourão: O Duelo (23/10)

Senhor pronto para a esgrima:  'Vamos já  tratar de pôr tudo no seu lugar!'

Resposta 'Não te dá mais jeito uma caneta?' 


2. Joana Camões Pereira:  Perdido na... Comunicação (26/10)


3. Olavo Rodrigues: S/ título (26/10)

Europeu: Rende-te, índio! És demasiado primitivo para me afrontar!

Índio: "Índio"? Que ricas aulas de Geografia há na tua terra...


4. Francisco M. Rúbio: S/título (26/10)

5. Miguel A. Baptista: O Delírio Português (26/10)

6. Ana Filipa Leite: Halloween e Pocahontas (explicou) (28/10)

7. Catarina Lourenço: Um Presidente Moderno (28/10)

8. Nádia Correia: Os Descobrimentos nos dias de hoje (28/10)

9. Julia Roveri: A Primeira Carteirada Ultramarina (hoje 29/10)

10. Miguel Francisco: S/título (29/10)


Jantar colonizatório


 

Ruído na comunicação

 Daniel Regis e H-Catalán




A primeira carteirada ultramarina


Julia Roveri
 

Duas capas novas para dois livros velhos

 Ana Filipa Leite

Aqui estão duas capas que fiz para dois livros que já têm mais de 100 anos, juntamente com descrições dos processos de criação delas.

1. The Turn of the Screw, de Henry James (1898)

Quis criar uma capa que transmitisse que The Turn of the Screw é um livro arrepiante e pesado que tem miúdos perturbadores como personagens.

Para (tentar) conseguir esse efeito, criei um fundo negro de aspeto enevoado ou poeirento e ocupei quase a totalidade da capa com o título da obra, cujos caracteres fiz a partir de retratos de crianças que, a meu ver, têm um aspeto medonho. A pintura do século XIX tem muitas crianças dessas.


2. Os Maias, de Eça de Queiroz (1888)

Para fazer esta capa, peguei em três elementos textuais da capa da primeira edição (o nome do autor, o título da obra e o subtítulo) e, com uma fonte semelhante, coloquei-os na sua posição original.

De seguida, ocupei o vazio na metade inferior da capa com um recorte da pintura Praia das Maçãs (1918), de José Malhoa. Quis utilizar um quadro de José Malhoa, contemporâneo de Eça de Queiroz, por ter sido um dos pioneiros do naturalismo em Portugal e Os Maias ser um romance realista/naturalista. Quem conhece o livro, e conhecemo-lo todos, identifica o porquê de eu ter escolhido este quadro em particular, que retrata um jovem casal heterossexual.

Coloquei ainda outro recorte da pintura como fundo para o título do romance.

"Os Descobrimentos nos dias de hoje", Nádia Correia


 

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Um Presidente Moderno (Cartoon)

 Catarina Lourenço



Para os mais distraídos e/ou confusos.

Contracapa: um exercício

 Julia Roveri

Escrevi o texto abaixo para contracapa de um livro de poesia. Tentei captar os pontos fortes da obra e indicá-los ao leitor e também inseri alguns versos do poeta nos três parágrafos. Sabe-se que escrever é sempre um exercício, mas escrever sobre a obra de outrem vai um passo além, pois exige muita atenção e respeito com o material que se lê. Espero que gostem da minha contribuição para as discussões em sala:


Escrever / Como um modo / De manter a cordura.

O cotidiano veloz da cidade passa como um caleidoscópio: trânsito, cartazes, ruídos, multidões, greves e roubos se confundem e se embaralham. As numerosas distrações da urbe não impedem, no entanto, que a cuidadosa vigília poética de A orelha de Holyfield se agigante e permaneça.

Na linguagem aparentemente simples e direta de Rafael Gutiérrez, as entrelinhas pulsam, sugerindo mistérios desde os títulos de cada poema: “Oração ao impávido colosso”, “Instruções para a indução de um transe particular”, “Thomas Mann não vê as fotos de suas amigas no facebook” e outros são sínteses do turbilhão de sensações e referências que nos atravessam. Ainda assim, o autor é capaz de construir um apocalipse inerte, que passa despercebido pelo horário comercial do mundo.

No poema-título, diante da violência expressa na luta de boxe, o autor questiona se “tudo não passou de uma brincadeira / (um jogo entre meninos grandes)” – este movimento pendular entre a ferocidade e a vulnerabilidade das nossas lutas diárias é captado por Gutiérrez com a sensibilidade e a maestria dos grandes poetas, que sabem extrair a arte até mesmo dos mais inesperados episódios com que nos deparamos na vida.

 

Julgar Cinco Livros pelas Capas

Manuel Afonso

Como pedido numa das aulas recentes, partilho cinco capas que me chamaram à atenção. As primeiras três vieram-me à mente assim que o exercício foi enunciado, pois tinham-me ficado na memória em visitas feitas a livrarias. As últimas duas foram encontradas no Wook.

Escolhi capas de livros sobre os quais sei pouco ou nada. O critério foi a sua capacidade de me incitar a saber mais sobre os livros, a folheá-los e a querer adquiri-los sem mais. As notas que escrevi procuram expressar a forma como o fizeram.



Apneia

O denso azul desta capa é o de um mar sem fundo? Ou o de uma tranquila piscina? A figura feminina, espelhada na superfície sem ondas, vem à tona relaxada... ou afoga-se? O seu vestido vermelho promete-nos erotismo ou sangue? Ou ambos? É esta apneia a de um mergulho em águas tépidas? Ou é afogamento e sufoco? A imagem é tensa porque sugere estas narrativas opostas. O nome em destaque, da jovem autora, não interfere com este enigma, mas salta à vista. O “N” fora do lugar, faz o resto: somos tentados a mergulhar no livro para responder ao que a capa deixa em aberto.



Porquê Olhar os Animais?

A pergunta do título surpreende. Se a capa nos mostrasse um tigre ou uma serpente, a questão perdia o sentido – o fascínio pelas feras era a resposta evidente. O mesmo seria verdade caso nos mostrasse um cão ou um gato, cuja afinidade que suscitam serviria de resposta. Mas uma zebra é-nos familiar e exótica ao mesmo tempo. Já todos vimos uma, na televisão ou no zoo... mas o que sabemos sobre ela? A pergunta ganha pertinência: porquê olhar para um equídeo listrado? As letras pretas e o fundo branco complementam a fotografia sóbria. É uma capa que faz querer ler este livro em público, numa esplanada ou no metro, e suscitar curiosidade ao nosso redor - elegantes e inusitados como zebras.


A História de Quem vai e de quem Fica

Identificamos rapidamente o estilo da capa – uma fotografia sobre uma cor neutra, sob o título e o nome do autor em letras clássicas, serifadas – com os romances da Relógio d'Água. A estes, associamos, por sua vez, qualidade. A foto, a preto e branco, em plano picado, oblíquo às escadas, remete para as vanguardas soviéticas dos anos 20. Transporta-nos para escadaria de Odessa, n'O Couraçado Potemkine. A mulher de costas, que sobe as escadas hirta, com uma criança ao colo, é, em si mesma, uma história. Estaremos no entre-guerras e vemos uma jovem mãe, viúva de um soldado, que enfrenta sozinha a meia noite do século? O romance de Elena Ferrante provavelmente nada tem a ver com isto, mas a capa já nos transportou para uma ficção apetecível.




Uma Noite não são Dias

Nem sempre queremos um ler algo pesado e reflexivo. Às vezes queremos só divertirmo-nos e passar o tempo com um livro leve e bem escrito. Quem sabe soframos de insónias e ler seja o melhor remédio. Se for isso que procuramos, esta capa acena-nos. O nome de Mário Zambujal aparece no topo, em letras grandes - o que é oportuno, agora que a RTP fez da sua Crónica dos Bons Malandros uma série televisiva. Se pelo autor adivinhamos uma prosa bem disposta e sagaz, o subtítulo promete uma “paródia ao tempo que voa” (roubando-nos o sono). Sabemos assim o que nos espera. Uma jovem esbelta, cujo vestido é um prédio habitado por notívagos, cujas histórias certamente se entrelaçam nas páginas do livro, é o chamariz que falta para leitores insones.




Epidemias Como Combatê-las

Imaginemos uma capa para este título. Na nossa mente, visualizamos um fundo branco, asséptico, e as formas estilizadas de microscópios. No centro, imaginamos a inevitável esfera espinhosa flutuante, que se convencionou representar a Covid-19. Mas a capa desta edição da Aletheia Editores não tem nada disso. Toda ela é sépia e creme, manchada como uma fotografia velha. O tipo de letra talvez lembre um anúncio farmacêutico - mas dos anos 40. Ao fundo, a imagem de uma montanha coberta de neve, ladeada por pinheiros, entre os quais saltitam veados, surpreende. Sobre o inesperado cenário alpino, temos o índice: uma longa lista de epidemias várias onde falta a actual. Curiosos, folheamos o livro e percebemos que é um fac-simile de uma obra antiga. A capa afinal adequa-se. Inteligentemente, não anuncia o seu conteúdo fac-similado. Obriga-nos a abrir o livro para entender o desfasamento entre esta e as restantes edições-covid que contaminam as livrarias por estes dias.


Mais duas conversas entre o índio e o homem branco

Ana Filipa Leite

 

(Para quem não conhece o famoso look da Cher a que me refiro, aqui está o link. Carreguem nele apenas se não se importarem de ver mamas ao léu.)

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Capas bonitas, conceitos diferentes e ilustrações que empobrecem os livros

 


Ana Filipa Leite

A minha preferência é livros digitais. É assim que vivemos quando o nosso apartamento inteiro é do tamanho da sala de jantar dos nossos pais e a renda é absurda. Não tenho nem 15 euros para dar por cada história que quero ler nem onde guardar tantos livros. Mas às vezes o marketing ou a arte apanham-me e compro livros físicos mais pelo desejo de ser dona de coisas bonitas do que pela vontade de os ler.

O meu Kindle tem livros feios – sobretudo thrillers de capas escuras cujos designers pouco inspirados (ou a quem não foi dada liberdade criativa) retiraram mulheres a correr pela floresta, silhuetas de homens armados e fachadas de mansões góticas de sites de stock images. Mas a minha única estante está cheia de capas de cores vivas com ilustrações criadas exclusivamente para os livros onde se encontram. Essas são as capas que merecem o meu dinheiro.

Por muito bom que o seu conteúdo seja, não quero um livro feioso a ocupar espaço físico quando pode estar enfiado numa pasta digital.

Tenho cópias físicas dos cinco livros na imagem acima, e todos têm essas tais capas coloridas com ilustrações que fazem mais do que aderir às convenções do seu género: as capas revelam algo sobre essa narrativa em particular. O segundo livro, por exemplo, com o desenho dos dois rapazes de mãos dadas, é evidentemente um romance LGBT+. Mas as cores escolhidas aludem ao facto de a bissexualidade ser dos temas desta história. E esses tons roxos e cor de rosa podem atrair leitores que não estariam interessados em mais um romance M/M entre dois homossexuais.

E a última capa, a de Wilder Girls de Rory Power, mostra uma rapariga cuja aparência física se deteriora e revela flores no seu interior. Sabemos imediatamente que ela é a protagonista e que algo de errado e sobrenatural – mas talvez também bonito, porque tudo o que tem flores é pelo menos um bocadinho bonito – se passa. Sendo este livro um thriller que tem lugar num colégio interno, a capa poderia retratar apenas mais uma mansão cheia de spooky vibes. Mas foi muito mais longe. Eu olho para a capa e quero saber tudo sobre esta rapariga.

Ao juntar estes cinco livros, percebi que tendo a comprar livros com flores na capa. Sou trouxa pelas florzinhas.


Mas não são só as cores, as ilustrações e as flores que me apanham. Capas com conceitos fora do comum também têm de ser minhas. Este livro (no vídeo acima) sobre uma casa assombrada assombra o meu quarto com a sua luzinha de presença irritante. Mas eu tinha de o ter, porque MEU DEUS, ELE BRILHA NO ESCURO. Como tive de ter outros livros porque AI AI, ELES TÊM TEXTURA. 

Até a ausência de capa pode ser uma capa atraente que dá vontade de gastar dinheiro. A empresa Blind Date with a Book vende livros escondidos dentro de embrulhos simples. As capas – e os títulos e autores – são-nos inacessíveis até os comprarmos. Não há garantias de que os livros tenham bom aspeto ou até de que não os tenhamos já lido. Comprá-los é um risco, e a Blind Date with a Book sabe que o que é arriscado é sexy.

Comprei-lhes quatro livros de uma vez.


Um tipo de livro físico com que nunca me vão apanhar, apesar das suas cores vibrantes, é aquele cujas ilustrações parecem desenhos animados, da pior maneira possível.

Os desenhos desta tendência nem têm de ser feitos por ilustradores/designers. Qualquer miúdo de seis anos com a Pen Tool do Photoshop faz igual, copiando os contornos de fotografias. Até o computador sozinho conseguiria o mesmo efeito. O resultado é rasca e infantil, apesar de ser muito utilizado em bons livros para leitores adultos que contêm temas pesados. Estas capas não transmitem, de maneira nenhuma, a essência e diversidade dos livros, porque elas próprias estão isentas de complexidade e parecem todas iguais. É que nem um sombreadozinho têm.

Resumindo, deem-me capas únicas, deem-me capas coloridas e boas ilustrações, mas ai de quem me ponha à frente uma capa genérica. 

5 capas, mas roubando na proposta

 Daniel Regis


A proposta do exercício era de procurar 5 capas mais bonitas de uma livraria mas, por estarmos em meio ao uma pandemia mundial, resolvi roubar um pouco e escolhi 5 capas de livros de edições brasileiras pois, como tal, devo valorizar também o mercado editorial do meu país. 


Para este exercício, escolhi alguns critérios de escolha da capa:

 - Ela deve ser visualmente atraente;

 - Deve dialogar com o conteúdo do livro em si;

 - A capa deve ter me chamado a atenção ao ponto de eu ter comprado o livro em questão.


Explicado os critérios, vamos para as capas escolhidas:



Neuromancer de William Gibson - Editora Aleph


Ilustrado pelo artista Josan Gonzales, a capa chama atenção pelas suas cores vivas e os detalhes no desenho, que conversam com o conteúdo da obra em si. Esta capa feita pela Editora Aleph fez tanto sucesso que o próprio William Gibson a elogiou em seu twitter pessoal.





O Nome do Vento de Patrick Rothfuss - Editora Arqueiro


No meu entendimento como leitor de fantasia, a capa de um livro de fantasia deve trazer aquele universo à vida. Claro, tem capas de livros de fantasia que não são ilustradas, mas na minha opinião, as melhores são. Através dessa ilustrações temos uma melhor visão desse mundo nova e fantástico, bem como o personagem principal, a geografia do lugar e outras questões. Dessa forma, creio que uma capa ilustrada para livros de fantasia seja mais proveitoso para o leitor, além de ser muito bonito para se por na estante.






Medo Imortal de vários autores - Editora Darkside Books


Uma antologia de contos de terror escrita por vários autores que fizeram ou fazem parte da Academia Brasileira de Letras tinha que ter uma capa à altura, e a Darkside conseguiu fazer uma. Com uma capa dura, a obra mostra já em sua capa ricos detalhes ornados que remetem à realeza da literatura brasileira, bem como as cores verde e amarela remetendo ao país e, claro, uma caveira para deixar aquele detalhe sútil do que está por vir. Além da capa, a edição é como incrível, com ilustrações, fita de cetim para marcar as páginas e páginas pintadas de dourado na lateral.






Matéria Escura de Blake Crouch - Editora Intrínseca


Com um laranja bem chamativo e somente a tipografia repetindo pela capa, a escolha desses elementos conversa muito com o conteúdo do livro, que trata de múltiplas realidades e universos paralelos, além de ser esteticamente bonito, ao menos para mim.






Conan, o Bárbaro de Robert E. Howard - Editora Pipoca e Nanquim


Por último mas não menos importante, uma capa digna do rei do sumérios. Com uma ilustração magnífica de Frank Frazetta, a capa da segunda edição dos contos de Conan mostra toda a força e importância do personagem somente em seu desenho, porém, a editora Pipoca e Nanquim não quis poupar esforços para levar a edição definitiva dos contos de Conan ao Brasil, a capa ainda é revestida por uma sobrecapa de acetato. Então, quando o leitor tira a sobrecapa, a belíssima ilustração de Frazetta consegue ter todo seu esplendor sem o título e a logo da editora.




Guia de sinais de revisão

Mesmo com o semestre já findado, deixo aqui  este guia bastante completo dos sinais usados na revisão de texto. O  site  Revisão para quê t...