sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Servir dois senhores e outras anotações

Francisco M Rúbio


 A tecnologia pode destruir vidas. Uma câmara no sítio errado junta-se à ligação errada e o que se queria privado torna-se público de Nova Iorque para o universo. O chamado do it yourself da cancel culture. A cultura de anular alguém por aquilo que faz e socialmente não é aceitável devia ser sinónimo de evolução. Mas evolução também significa que deve haver espaço para todos, ou não?


O que aconteceria se soubéssemos tudo acerca de uma pessoa antes de a contactarmos? Será que através de uma capa já lemos o livro inteiro? A edição também serve para mostrar apenas o que queremos que seja percebido.


Os mestres entram pelo Nimas adentro. Na sala ecoa agora o metal das espadas a cortar convenções e a levarem-nos até ao Japão de Kurosawa. A excelência nipónica numa sala de cinema de autor com um público que aprecia cinema. Ao contrário dessas grandes salas, com marcas patrocinadas, pipocas estridentes e seleccão de filmes para as massas, esta sala não se encontra vazia. Vantagens de ser pequeno? O risco, pois claro.


Como vemos, o tamanho afinal importa. A Feira do Livro de Frankfurt é o maior encontro literário do nosso planeta. Foi adiado o evento físico deste ano, pois com esta dimensão nem se poderia arriscar. 


E se em Portugal somos tão pequenos, porque arriscamos tão pouco?


Por cá, afinal há quem arrisque. Sem máscara e tentando explicar o que o mundo inteiro não percebeu: a pandemia é afinal uma conspiração chinesa financiada pelas famílias capitalistas que dominam o universo a partir da Rússia. Confusos? O professor Marcelo também. Como fala o spot da Folha de São Paulo: 


“É possível contar um monte de mentiras só falando verdades”.


Num documentário nobre em horário pobre, Jonh Steinbeck e o seu romance hermético “As vinhas da ira” fazem-me descobrir que SPAM era uma carne enlatada produzida em massa e sensaborona. Luto contra a minha caixa de e-mail que insiste em acumular mensagens destas ao invés de surpresas apelativas. Este livro, “As vinhas da ira”, discorre sobre o sofrimento de uma minoria perante a cegueira colectiva de uma América hollywoodesca, por oposição a best-sellers que pululam nas estantes dos tops literários portugueses, onde Auschwitz é metier para toda uma normalidade romanesca que traduz tragédia em normalidade, para conseguir meter comida na mesa de todos.


Fontes:

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/marcelo-da-aula-a-negacionista-da-covid-19-que-nao-usa-mascara

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