Meus caros, conforme disse, os prazos só devem ser esticados quando quem tem de os cumprir esgotou mesmo o tempo. Têm (quem não conseguir antes) até dia 5.
Qualquer dúvida, esclarecimento etc. falem comigo.
Meus caros, conforme disse, os prazos só devem ser esticados quando quem tem de os cumprir esgotou mesmo o tempo. Têm (quem não conseguir antes) até dia 5.
Qualquer dúvida, esclarecimento etc. falem comigo.
Pessoalmente, não aprecio este tipo de livros. Mas são produtos ágeis e fazem uma coisa importante para os livros: vendem.
Na Bertrand Saldanha, os livros da autora estão em destaque. Levei cinco minutos a encontrar o mais recente livro de Eduardo Pitta, e outros tantos (esforcei-me por não pedir ajuda) a encontrar o novo romance de Patrícia Portela – Hífen – que foi capa no JL. Mas os de Inês Gaya estavam em destaque à entrada.
Será a última aula oficial, embora eu esteja disponível para aulas extra e conversas por zoom.
Se alguém quer apresentar oralmente um trabalho diga.
Balanço: o que aprendemos/o que ficou por aprender?
O vosso percurso: o que fazer com o mestrado? Como usar o que aprendemos? Que instrumentos adquirimos para lidar com o que não aprendemos? Como aprender a ser díctil, flexível, ágil e potenciar as eficiências ao mesmo tempo que reduzimos as ineficiências a um Rt aceitável?
Em baixo, um artigo agridoce sobre os jornais:
Primeiro
muito devagar, e depois subitamente
Rogério
Casanova
DN, 23 Maio 2021 — 00:23
No
segundo episódio da segunda temporada de Succession, dois herdeiros da família
Roy, Roman e Kendall, percorrem a redacção do Vaulter, um jornal digital
recém-adquirido pelo seu império de comunicação. Um dos irmãos olha à sua volta
- observando dezenas de corpos debruçados sobre secretárias, inclinados perante
monitores - e comenta em surdina com o outro: "tantos falsos jornalistas,
todos a fingir que trabalham". O objectivo da visita é avaliar números -
tráfego, visitas, cliques diários - e decidir a viabilidade do site. Mas na
verdade a decisão já estava tomada, e o episódio emoldura-a entre dois
discursos. No primeiro, Kendall oferece à redacção um ramalhete de banalidades
motivacionais: garantias de que são todos "uma família" e de que o
Vaulter é o "futuro do grupo", promessas de aumentos salariais e
receptividade a "novas ideias", etc. O propósito é ganhar tempo,
retardando um processo sindical em curso, e permitindo que uma equipa a
trabalhar em segredo nos bastidores consiga assumir controlo dos arquivos do
site. O segundo discurso, mais breve, limita-se a informar centenas de pessoas
que acabaram de perder o emprego, e que têm 15 minutos para recolher os seus
pertences e sair do escritório. O site continuará a existir com o mesmo nome
num estado vegetativo, com apenas cinco estagiários sob a supervisão de um
único editor - e a espremer valor residual dos arquivos e da marca enquanto for
possível.
Através
de manchetes fugidias vistas em ecrãs (Is Every Taylor Swift Lyric Secretly
Marxist?) a série estabelece o Vaulter como um arquétipo familiar na paisagem
online: a fábrica de conteúdos digitais (concebidos menos para serem lidos do
que para gerarem partilhas) que vai conseguindo flutuar acima da linha de água
à custa de um generoso investimento inicial, de manipulações algorítmicas, e de
muitos dados massajados. Ao condensar este ciclo de vida num episódio de uma
hora, a série relega o estado semi-comatoso para fora do ecrã, e inverte o modo
mais comum como um "jornal", no sentido mais abrangente do termo,
costuma morrer, que é mais o menos o modo como Hemingway descreveu a falência.
No romance O Sol Nasce Sempre, alguém pergunta a um temperamental veterano de
guerra escocês chamado Mike Cambpell como perdeu todo o seu dinheiro. "De
duas maneiras", responde. "Primeiro muito devagar, e depois
subitamente".
Os
primeiros sintomas costumam afligir a indústria inteira, o que cria a falsa
segurança de um inexorável (e colectivo) "processo" de transformação.
A primeira coisa que desaparece é aquilo que custa mais (em tempo ou em
dinheiro): investigações longas, reportagens no estrangeiro, despesas de
viagem, etc. Depois, todos os atalhos se vão tornando mais curtos. Copy desks
desaparecem. As redacções começam a encolher por ordem cronológica: veteranos
aceitam rescisões amigáveis e as suas funções são redistribuídas pelas várias
castas temporárias - estagiários, colaboradores, freelancers. Reuniões
estratégicas começam a ser mais frequentes. A ordem das secções é reconfigurada
como um baralho de cartas. Reinvenções são anunciadas. Suplementos são
rebaptizados. Mudanças de tom são sugeridas: o jornal deve tornar-se mais
ligeiro, mais profundo, mais especializado, mais generalista, mais local, mais
global. Como um paciente terminal, o jornal começa a ser mais vulnerável a
charlatães e curas milagrosas. Várias estratégias são adoptadas, na esperança
de que alguma pegue (paywalls, doações voluntárias, fundações, parcerias)
Quando a calamidade seguinte acontece (uma crise financeira, uma pandemia) um
ou outro lay-off costuma preceder o inevitável despedimento colectivo,
noticiado provavelmente não em números mas em fracções ("um quarto dos
funcionários", "um terço da redacção"). Não é suficiente. As
"dificuldades de tesouraria" tornam-se crónicas. As pressões
produtivas aumentam em proporção inversa à disponibilidade de recursos: perto
do fim, é esperado que uma dúzia de pessoas consigam fazer melhor um trabalho
que antes era feito por meia centena. São precisos mais cortes. E aquilo que
acontece muito devagar pode continuar a acontecer muito devagar durante muito,
muito tempo.
O
modelo de produção de notícias extremamente lucrativo que durou até aos anos 80
pode ser hoje identificado como uma anomalia, resultado de um conjunto
intrincado de incentivos historicamente contingentes. Os jornais prosperaram
enquanto puderam ser essencialmente financiados por publicidade - enquanto
foram o mais eficaz elo de ligação entre anunciantes e consumidores. A internet
dinamitou este monopólio informal. Muitos anunciantes migraram para motores de
busca ou plataformas de agregação. Relógios de luxo e suplementos de dieta
perceberam que é mais eficiente esbanjar orçamentos de marketing no Facebook ou
no Instagram do que sepultá-los entre reportagens parlamentares.
Mas
o modelo específico do jornal "generalista" também permitia o
subsídio invisível do consumo em massa, pois fornecia algo para todos. Um
leitor podia ignorar todas as notícias nacionais e internacionais, e comprar o
jornal apenas para saber os resultados desportivos, ou consultar a programação
de TV, ou espreitar os anúncios de emprego, ou resolver os problemas de xadrez,
ou ler a banda desenhada. Os leitores que compravam o jornal por estarem interessados
em x financiavam indirectamente os leitores que compravam o jornal por estarem
interessados em y, e vice-versa. Aquilo que custava mais dinheiro
(correspondentes estrangeiros, jornalismo de investigação) podia ser financiado
por quem não lia. Colunas de opinião podiam ser financiadas por pessoas que
detestavam o que o colunista dizia. A internet não se limitou a criar a ilusão
de que tudo isto era, ou podia ser, gratuito: também fragmentou o conteúdo em
tantos nichos que nenhum consumidor precisa de financiar outros interesses que
não os seus.
A
paisagem mediática de hoje parece-se muito mais com a do séc. XIX do que com o
período de prosperidade pós-guerra em que se consolidaram não só a maioria das
normas como até o entendimento que ainda hoje temos do jornalismo. Um desses
recidivismos é a figura do magnata da imprensa, o mecenas cujo estatuto vem de
estar disposto a gastar dinheiro que mais ninguém tem para fazer algo que
talvez já não seja possível fazer: "salvar" o jornalismo, não apenas
como prática, mas como prática comercialmente lucrativa. Um por um, mais tarde
ou mais cedo, todos acabam por perceber que mesmo que um conjunto de golpes de
sorte e práticas brilhantes os tenham tornado ricos, esses golpes e práticas
não são transferíveis para todas as áreas, nem capazes de erradicar décadas de
hábitos complacentes, nem de alcançar o milagre alquímico de fazer com pouco
dinheiro um produto que custa muito dinheiro a fazer. Excepto aqueles que
decidiram financiar jornais por outro propósito que não o lucro (influência
política, vaidade pessoal, etc), todos vão perder o interesse, como perderam o
interesse noutras indústrias em declínio. A diferença de base é pouco mais que
retórica: os clubes de vídeo e os amoladores de facas nunca conseguiram convencer-se
a si próprios de que eram baluartes indispensáveis da democracia.
Primeiro
muito devagar, e depois subitamente. Tal como tudo o resto, também as
eutanásias dos jornais serão mediadas pelos filtros existentes - e serenamente
inseridas nas várias escaramuças culturais em curso. Alguns óbitos serão
aplaudidos outros lamentados (em função de serem "de esquerda" ou
"de direita", do Benfica ou do Sporting, etc), mas a maioria será
ignorada. Alguns chegarão ao fim como o Vaulter: com uma mão cheia de estagiários
e um último editor, que vai aproveitar o seu derradeiro espaço de opinião para
explicar solenemente que o "tribalismo" das "redes sociais"
e a "sanha persecutória" da "inquisição digital"
representam um problema gravíssimo, uma ameaça existencial à liberdade de
expressão. A coluna será publicada assim, não ironicamente, mas com total
seriedade, antes de alguém apagar a luz.
Título : Festejos Covid por piedade para com os festejadores
https://ionline.sapo.pt/artigo/735425/e-plausivel-que-haja-uma-associacao-entre-aumento-de-casos-em-lisboa-e-os-festejos-do-sporting?seccao=Portugal_i
Saiu esta no notícia no jornal I hoje. É uma situação engraçada que uma equipa de futebol (o nosso tão amado futebol) tenha provocado festejos em massa que puseram em risco a saúde pública. Ninguém a trabalhar no Estado se lembrou dos habituais festejos? Quer dizer, uma coisa é ter dó de quem não festeja o nascimento de uma andorinha já mais de vinte anos, outra é ignorar que os festejos iam obviamente acontecer.
Destaque: É preocupante o aumento de casos em Lisboa?
Acima de tudo é um sinal de aviso que não deve ser ignorado. Lisboa é o maior concelho do país com mais de meio milhão de habitantes, havendo várias ligações pendulares com outros locais, pelo que este aumento pode ter um impacto regional e nacional.
Ponto equidistante:
Um escândalo quse tão grande como o do pintor Tafas. A ler (a quem interessar) aqui.
O OCR (Optical Character Recognition) é uma forma de digitalizar um texto. Geralmente faz-se com textos antigos ou que, tendo sido publicados antes do computador, queremos guardar. O OCR também é usado para reedições, quando o original foi publicado noutra editora.
Um dos problemas é que o sistema tende a confundir algumas letras: o l e o 1, o r e o v, o m e o n...
Uma leitura humana é sempre recomendável, tal como com as traduções google.
Na verdade é o 31, porque nós fizemos também uma prova cega (lembram-se?) com trechos de Saramarog e Lobo Antunes.
Este artigo de opinião saiu hoje, 14 de maio, no jornal i.
1. Ajude-o a ficar melhor, aplicando a técnica do esforço mínimo.
2. Arranje um título (ou, se for espreitar - preferia que não - comente se acha o do autor adequado).
3. Faça um destaque (80-120 c.)
Nota: você não tem de concordar ou não. É um trabalho. Quem for bom a fazê-lo terá aqui uma oportunidade de negócio, porque o que não faltam são clientes com pódio mas carecendo de ajuda.
TÍTULO: ........................
Que o jornalismo é uma actividade fundamental em qualquer democracia e Estado de Direito que se preze, ninguém tem dúvidas. Que os jornalistas enquanto motor da actividade em questão são peça fundamental do escrutínio público que a sustenta, sobretudo no que à política e seus agentes diz respeito, muito menos. Digo-o honestamente, sem qualquer falsidade pessoal.
Contudo,
é igualmente inequívoco, sobretudo pela sua repetição ao longo dos tempos, que
há alguns jornalistas que não primam propriamente por estes princípios,
circunstância que não colocando em causa a idoneidade de todo o sector em
questão, merece ainda assim a devida reprovação.
Fernanda
Câncio é, em minha opinião, um exemplo claro do que acabo de considerar.
Sobretudo porque é estranhíssimo que alguém que tenha tido uma relação tão
próxima com José Sócrates e aparentemente nunca tenha estranhado nada nos seus
comportamentos e estilo de vida, insista reiteradamente em censurar todos
aqueles com os quais discorde.
Esta
semana, após a ida de André Ventura a tribunal pela utilização de uma imagem
afecta a moradores do Bairro da Jamaica durante o seu debate presidencial
contra Marcelo Rebelo de Sousa (circunstância por si só, ridícula), escreveu um
artigo em que não se coibiu de colocar em causa o que no tribunal havia sido
dito pelo próprio ou por outros representantes do CHEGA.
Como
digo é tudo muito estranho. Sobretudo quando da escrita que assinou me deu a
sensação que colocou em causa algumas declarações que teriam que ver com a
origem de algumas contas de redes sociais ligadas ao partido.
Estaria
Câncio a dormir, ao ponto de nunca ter questionado a origem das contas
bancárias do seu ex-namorado bem como o dinheiro que a seu lado gastava e do
qual, mesmo que indirectamente, também nessa época, usufruía?
Não
estou com isto a dizer que a origem dessas contas e do seu recheio seria
ilícita ou não, que José Sócrates é culpado de alguma coisa ou que Câncio fosse
disso conhecedora e ao sê-lo o devesse ter denunciado. Tenho a minha opinião,
mas disso ter-se-ão de se encarregar os tribunais.
Aquilo
que sinto poder dizer, porque é a minha opinião e dela ninguém me pode privar,
é que Fernanda Câncio não passa de uma hipócrita que não reunindo os níveis
mínimos de idoneidade pessoal, intelectual e profissional, não respeita também
o significado da palavra coerência.
Disso
deve Fernanda Câncio envergonhar-se. Envergonhar-se porque em vez de se
preocupar em perseguir André Ventura e o Chega se deveria preocupar antes em
criticar e questionar quem enquanto primeiro-ministro conduziu o país onde ele
se encontra.
Para
finalizar, porque pese embora confesse tenha achado estranho, devo dizer que ao
mesmo tempo também isso me divertiu, eu que acompanhando André Ventura a esta
audiência, ao olhar para o meu lado direito dei com Fernanda Câncio sentada
praticamente a meu lado para assistir ao julgamento em causa, gostaria que a mesma
me explicasse porque não compareceu ao julgamento de José Sócrates para poder
fazer o relato que fez sobre a audiência de André Ventura com a mesma
ferocidade.
-
Será porque Fernanda Câncio, também ela, consta dos autos do Processo Marquês?
-
Será porque Fernanda Câncio foi também ela escutada em conversas telefónicas
meio codificadas e por isso, estranhas?
-
Será porque a sua suposta valentia só serve para criticar aqueles de que não
gosta e desaparece perante aqueles sobre quem alegadamente impendem as mais
sérias dúvidas?
São
questões que deixo e se para elas não tenho resposta, há uma coisa que sei. Não
há uma só palavra que dita ou escrita por Fernanda Câncio possa ser levada a
sério.
Rodrigo Alves Taxa
Filipe Heath
Strengths - Pessoas Normais segue duas pessoas comuns, com defeitos, qualidades, valores e vontades. As personagens desenvolvem-se ao longo do livro e as suas escolhas têm sempre influência no seu dia-a-dia. No final do livro, os personagens conhecem-se bem a si próprios e o que querem para o seu futuro.
Weaknesses - A autora introduz vários temas neste livro tal como: ansiedade, depressão e relacionamentos abusivos visando criar uma discussão importante. Acaba por ser superficial, foca-se demasiado no romance e faz uma fraca exploração dos problemas por não os aprofundar. Acredito que esse não seja o objetivo da autora.
Opportunities - Pessoas Normais lembra-nos que há por vezes pessoas que nos fazem tão bem e tão mal ao mesmo tempo mas a vida continua, independentemente dos desafios que ela nos colocar. Temos a oportunidade de refletir na forma como nos relacionamos com as pessoas.
Threats - Discussão política insensível e romantização das dificuldades dos protagonistas.
Filipe Heath
Como já conseguiram perceber eu falo várias vezes, diretamente ou indiretamente, da importância da diversidade na literatura. Façam um exercício de reflexão e observem atentamente as vossas estantes, quantos autores brancos estão presentes comparativamente a autores negros e/ou asiáticos? E dentro dos autores brancos, quantos deles são cis-gênero e heterossexuais? A primeira reação ao ler isto é logo: para mim a cor da pele ou identidade de gênero/orientação sexual não importa, eu leio o que eu quero. Mas já pensaram que autores de comunidades marginalizadas têm muito menos oportunidade de serem publicados simplesmente por serem quem são? O leitor tem um papel grande a combater este facto.
Este mês estou a fazer um esforço para ler apenas autoras asiáticas portanto partilho com vocês cinco livros de autoras asiáticas que tenho lido ao longo deste ano e que recomendo vivamente, seja pela escrita, construção de personagens, plot ou discussões pertinentes.
João Morales foi diretor da revista mensal Meus Livros, jornalista, editor, e trabalha há muitos anos na área do fomento cultural. É o criador do Festival Livros a Oeste, na Lourinhã, a decorrer esta semana .
Aqui, uma das sessões do festival com o próprio Morales como entrevistador.
A sessão será presencial. Tragam perguntas. O João é umas pessoas mais activas nos últimos vinte anos no mundo editorial e, se não souber, diz que não sabe. Mas provavelmente sabe.
Hoje a aula será breve, mas suculenta, espero.
Serão emprestados livros - algo de que temos sentido falta.
Em princípio, na próxima aula teremos novo convidado: João Morales, o mentor do festival Livros a Oeste, a decorrer esta semana na Lourinhã e Online.
Adenda: muito engraçada, esta edição do The Guardian a celebrar os seus 200 anos e a apontar os piores erros cometidos.
Todo escritor convive com um terror permanente: o do erro de revisão. O
revisor é a pessoa mais importante na vida de quem escreve. Ele tem o poder de
vida ou de morte profissional sobre o autor. A inclusão ou omissão de uma letra
ou vírgula no que sai impresso pode decidir se o autor vai ser entendido ou
não, admirado ou ridicularizado, consagrado ou processado. Todo texto tem, na
verdade, dois autores: quem o escreveu e quem o revisou. Toda vez que manda um
texto para ser publicado, o autor se coloca nas mãos do revisor, esperando que
seu parceiro não falhe. Não há escritor que não empregue palavras como, por
exemplo: "ônus" ou "carvalho" e depois fique
metaforicamente de malas feitas, pronto para fugir do país se as palavras não
saírem impressas como no original, por um lapso do revisor. Ou por sabotagem.
Sim, porque a paranoia autoral não tem limites. Muitos autores acreditam
firmemente que existe uma conspiração de revisores contra eles. Quando os
revisores não deixam passar erros de composição (hoje em dia, de digitação),
fazem pior: não corrigem os erros ortográficos e gramaticais do próprio autor,
deixando-o entregue às consequências dos seus próprios pecados de concordância,
das suas crases indevidas e pronomes fora do lugar. O que é uma ignomínia. Ou
será ignomia? Enfim, não se faz.
Pode-se imaginar o que uma conspiração organizada, internacional, de
revisores significaria para a nossa civilização. Os revisores só não dominam o
mundo porque ainda não se deram conta do poder que têm. Eles desestabilizariam
qualquer regime com acentos indevidos e pontuações maliciosas, além de decretos
oficiais ininteligíveis. Grandes jornais seriam levados à falência por
difamações involuntárias, exércitos inteiros seriam imobilizados por manuais de
instrução militar sutilmente alterados, gerações de estudantes seriam
desencaminhadas por cartilhas ambíguas e fórmulas de química incompletas. E os
efeitos de uma revisão subversiva na instrução médica são terríveis demais para
contemplar.
Existe um exemplo histórico do que a revisão desatenta - ou
mal-intencionada - pode fazer. Uma das edições da Versão Autorizada da Bíblia
publicada na Inglaterra por iniciativa do rei James I, no século XVII, ficou
conhecida como a "Bíblia Má", porque a injunção "Não cometerás
adultério" saiu, por um erro de impressão, sem o "não". Ninguém
sabe se o volume de adultérios entre os cristãos de fala inglesa aumentou em
decorrência dessa inesperada sanção bíblica até descobrirem o erro, ou se o
impressor e o revisor foram atirados numa fogueira juntos, mas o fato prova que
nem a palavra de Deus está livre do poder dos revisores.
A mesma bíblia do rei James serve como um alerta (ou como o incentivo,
dependendo de como se entender a história) para a possibilidade que o revisor
tem de interferir no texto. O objetivo de James I era fazer uma versão
definitiva da Bíblia em inglês, com aprovação real, para substituir todas as
outras traduções da época, principalmente as que mostravam uma certa simpatia
republicana nas entrelinhas (como a Bíblia de Genebra, feita por calvinistas e
adotada pelos puritanos ingleses, e que é a única Bíblia da História em que
Adão e Eva vestem calções. Para isso, James reuniu um time dividido entre os
que cuidariam do Velho e do Novo Testamento, das partes proféticas e das partes
poéticas, etc.. Especula-se que as traduções dos trechos poéticos teriam sido
distribuídas entre os poetas praticantes da época, para revisarem e, se fosse o
caso, melhorarem, desde que não traíssem o original. Entre os poetas em
atividade na Inglaterra de James I estava William Shakespeare. O que explicaria
o fato de o nome de Shakespeare aparecer no Salmo 46 - "shake" é a
46ª palavra do salmo a contar do começo, "speare" a 46ª a contar do
fim. Na tarefa de revisor, e incerto sobre a sua permanência na História como
sonetista ou dramaturgo, Shakespeare teria inserido seu nome clandestina e
disfarçadamente numa obra que sem dúvida sobreviveria aos séculos.
(Infelizmente, diz Anthony Burgess, em cujo livro A mouthful of air a
encontrei, há pouca probabilidade de esta história ser verdadeira. De qualquer
maneira, vale para ilustrar a tentação que todo revisor deve sentir de deixar
sua marca, como grafite, na criação alheia.)
Não posso me queixar dos revisores. Fora a vontade de reuni-los em algum lugar, fechar a porta e dizer "Vamos resolver de uma vez por todas a questão da colocação das vírgulas, mesmo que haja mortos", acho que me têm tratado bem. Até me protegem. Costumo atirar os pronomes numa frase e deixá-los ficar onde caíram, certo de que o revisor os colocará no lugar adequado. Sempre deixo a crase ao arbítrio deles, que a usem se acharem que devem. E jamais uso a palavra "medra", para livrá-los da tentação.
Joana Camões Pereira
Há duas sessões, o editor João Concha deu-nos a conhecer o seu método de trabalho e expôs alguns do problemas e entraves que encontrou ao longo do seu percurso com a não (edições).
Hoje, deixou-vos a ligação para o podcast da Cultura Editora, «É Outra História», que, por outra via, nos dá a conhecer um pouco da realidade desta editora. O programa já conta com três episódios, todos eles apresentados pelo coordenador editorial, e em cada um deles aborda-se uma das fases de produção, contando com convidados — o editor, autores da casa, uma paginadora, uma revisora e uma capista do grupo Leya.
Tanto quanto sei, é a única editora que partilha este tipo de material, que nos permite bisbilhotar um pouco o que se passa dentro das paredes de uma casa editorial. O que se pode tirar daqui não é uma fórmula mágica, são apenas experiências e perspectivas pessoais, mas que nos podem ajudar a evitar erros, a despertar sensibilidades e a perceber que cada casa tem um tapete diferente.
5
O booktrailer da Ana Filipa está perto do perfeito. Só sugiro umas déciams de segundo mais de música introdutória. Mas terei razão? Não sei. Não estou seguro. Uma vez sugeri a um poeta que tirasse os pontos finais, «para dar mais espaço aos versos, menos determinismo» e, meses mais tarde, esquecido, após ele sugerir as minhas dicas, disse-lhe o contrário: «Ó pá, devias pôr uns pontos finais, para tornar os versos mais afirmativos, determinados». Quem/quando tinha razão? Por vezes é óbvio, outras não. Mas decisões - informadas, pertinentes, assentes na experiência, na técnica, no talento, no nariz - têm de ser tomadas.
4
A vida lá fora influencia as decisões e o mercado. O assédio e o movimento #metoo são, com méritos, próprios, temas da atualidade. Esta semana apareceu já um nome, por sinal o do que foi um dos mais respeitados editores portugueses. (Nota: trabalhei com ele, como metade da humanidade, temos uma relação cordata; com a Joana Emídio Marques é o contrário.) Isso dividiu o campo em dois: o dos que, como nos grupos mais fechados e corporativistas, dizem «O meu menino não!» e o dos que (ver a votação na nossa turma, por oito a zero) dizem «a queixa parece legítima». Nota A: nenhum de nós estava lá. Nota B: ser «meu amigo» e «uma pessoa respeitável» tão mau argumento como dizer «a vítima tem sempre razão». Nota C: ficou provado que esta área é mesmo endogâmica. E há um terceiro elemento: o jovem editor de sucesso de uma chancela da Porto, Rui Couceiro, que é citado como tendo dito uma coisa mas depois tendo-a veementemente negado em público. Em que ficamos?
Não percam as cenas dos próximos capítulos. Entretanto, sugiro que sigam o caso. A poeta, ensaísta e professora já escreveu um artigo em defesa do queixoso. Que aliás tem em sua defesa também o poeta e ex-diplomata e ex-ministro da Cultura Luís Castro Mendes, mais uma série de pessoas daquela geração. Do lado da jornalista e escritora também há jornalistas, repórteres, intelectuais - e até poetas, como Rui Almeida.
Eu só digo: não me comprometam! Mas dizer «não me comprometam» é um bocadinhochinho contrário à imagem do intelectual destemido que não tem 'medo' de dizer as coisas, certo?
3. Editar é escolher
(...(
2. Atenção à duração dos direitos de autor
Os direitos de autor tornam-se públicos passado algun tempo - antigamente 50 anos, agora 70. Isso fez com que Fernando Pessoa que, nos anos 80, estava no domínio público, nos 90 passasse a ser explorado exclusivamente pela Assírio & Alvim, quenegociou os direitos com as herdeiras do poeta.
O direito à autoria, esse, não caduca. Significa que eu posso editar os sonetos de Camões, sem pagar direitos aos putativos herdeiros, mas não posso dizer que são meus.
Exemplo: Sacagens da pop a música clássica. Aqui, sobretudo minutos 14'-17'.
Ana Filipa Leite
Fiz um book trailer para o livro O Pó de Puns do Doutor Proctor, de Jo Nesbø, que encontrei há umas semanas na casa dos meus pais e cujas ilustrações achei interessantes para este exercício.
Agradeço ao meu irmão por ter dado voz a esta parvoíce. Aqui está o vídeo (e aqui está neste link também, com mais qualidade do que o leitor do Blogger permite):
Mesmo com o semestre já findado, deixo aqui este guia bastante completo dos sinais usados na revisão de texto. O site Revisão para quê t...