Ana Filipa Leite
A minha preferência é livros digitais. É assim que vivemos
quando o nosso apartamento inteiro é do tamanho da sala de jantar dos nossos
pais e a renda é absurda. Não tenho nem 15 euros para dar por cada história que
quero ler nem onde guardar tantos livros. Mas às vezes o marketing ou a arte
apanham-me e compro livros físicos mais pelo desejo de ser dona de coisas
bonitas do que pela vontade de os ler.
O meu Kindle tem livros feios – sobretudo thrillers de
capas escuras cujos designers pouco inspirados (ou a quem não foi dada liberdade
criativa) retiraram mulheres a correr pela floresta, silhuetas de homens
armados e fachadas de mansões góticas de sites de stock images. Mas a
minha única estante está cheia de capas de cores vivas com ilustrações criadas exclusivamente
para os livros onde se encontram. Essas são as capas que merecem o meu
dinheiro.
Por muito bom que o seu conteúdo seja, não quero um livro
feioso a ocupar espaço físico quando pode estar enfiado numa pasta
digital.
Tenho cópias físicas dos cinco livros na imagem acima, e todos
têm essas tais capas coloridas com ilustrações que fazem mais do que aderir
às convenções do seu género: as capas revelam algo sobre essa narrativa em
particular. O segundo livro, por exemplo, com o desenho dos dois rapazes de
mãos dadas, é evidentemente um romance LGBT+. Mas as cores escolhidas aludem ao
facto de a bissexualidade ser dos temas desta história. E esses tons roxos e
cor de rosa podem atrair leitores que não estariam interessados em mais um
romance M/M entre dois homossexuais.
E a última capa, a de Wilder Girls de Rory Power, mostra uma rapariga cuja aparência física se deteriora e revela flores no seu interior. Sabemos imediatamente que ela é a protagonista e que algo de errado e sobrenatural – mas talvez também bonito, porque tudo o que tem flores é pelo menos um bocadinho bonito – se passa. Sendo este livro um thriller que tem lugar num colégio interno, a capa poderia retratar apenas mais uma mansão cheia de spooky vibes. Mas foi muito mais longe. Eu olho para a capa e quero saber tudo sobre esta rapariga.
Ao juntar estes cinco livros, percebi que tendo a comprar livros
com flores na capa. Sou trouxa pelas florzinhas.
Até a ausência de capa pode ser uma capa atraente que
dá vontade de gastar dinheiro. A empresa Blind Date with a Book vende livros escondidos
dentro de embrulhos simples. As capas – e os títulos e autores – são-nos
inacessíveis até os comprarmos. Não há garantias de que os livros tenham bom
aspeto ou até de que não os tenhamos já lido. Comprá-los é um risco, e a Blind
Date with a Book sabe que o que é arriscado é sexy.
Comprei-lhes quatro livros de uma vez.
Um tipo de livro físico com que nunca me vão apanhar, apesar
das suas cores vibrantes, é aquele cujas ilustrações parecem desenhos animados,
da pior maneira possível.
Os desenhos desta tendência nem têm de ser feitos por
ilustradores/designers. Qualquer miúdo de seis anos com a Pen Tool do Photoshop
faz igual, copiando os contornos de fotografias. Até o computador sozinho conseguiria
o mesmo efeito. O resultado é rasca e infantil, apesar de ser muito utilizado
em bons livros para leitores adultos que contêm temas pesados. Estas capas não
transmitem, de maneira nenhuma, a essência e diversidade dos livros, porque
elas próprias estão isentas de complexidade e parecem todas iguais. É que nem
um sombreadozinho têm.
Resumindo, deem-me capas únicas, deem-me capas coloridas e boas ilustrações, mas ai de quem me ponha à frente uma capa genérica.
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