Mesmo com o semestre já findado, deixo aqui este guia bastante completo dos sinais usados na revisão de texto.
O site Revisão para quê tem muito conteúdo interessante pra quem trabalha com revisão, vale dar uma olhada.
😊
Meus caros, aqui estão as notas que acho vocês se atribuiram. O docente não dá as notas, não mais do que o sol se deita ou o trânsito está um inferno. O ideal de justiça é que o professor seja apenas a máquina que pondera os dados inseridos pelo aluno.
Na vida real não é bem assim? Certo, mas isso não significa que não possamos pensar que devia ser assim.
Ana Filipa
Leite - 18 |
Andréa Fonseca - 17 |
Carolina Belchior - 18 |
Carina
Goulart - 18 |
Daniel
Regis - 17 |
Filipe
Heath - 18 |
Joana
Camões Pereira - 19 |
Joana
Nunes - 16 |
Julia Roveri - 19 |
Nelson Alves - 17 |
Nádia
Correia - 17 |
Tagiane Mai - 19 |
Raquel B.
Paixão - 15 |
armar-se em esquisito
Meus caros, conforme disse, os prazos só devem ser esticados quando quem tem de os cumprir esgotou mesmo o tempo. Têm (quem não conseguir antes) até dia 5.
Qualquer dúvida, esclarecimento etc. falem comigo.
Pessoalmente, não aprecio este tipo de livros. Mas são produtos ágeis e fazem uma coisa importante para os livros: vendem.
Na Bertrand Saldanha, os livros da autora estão em destaque. Levei cinco minutos a encontrar o mais recente livro de Eduardo Pitta, e outros tantos (esforcei-me por não pedir ajuda) a encontrar o novo romance de Patrícia Portela – Hífen – que foi capa no JL. Mas os de Inês Gaya estavam em destaque à entrada.
Será a última aula oficial, embora eu esteja disponível para aulas extra e conversas por zoom.
Se alguém quer apresentar oralmente um trabalho diga.
Balanço: o que aprendemos/o que ficou por aprender?
O vosso percurso: o que fazer com o mestrado? Como usar o que aprendemos? Que instrumentos adquirimos para lidar com o que não aprendemos? Como aprender a ser díctil, flexível, ágil e potenciar as eficiências ao mesmo tempo que reduzimos as ineficiências a um Rt aceitável?
Em baixo, um artigo agridoce sobre os jornais:
Primeiro
muito devagar, e depois subitamente
Rogério
Casanova
DN, 23 Maio 2021 — 00:23
No
segundo episódio da segunda temporada de Succession, dois herdeiros da família
Roy, Roman e Kendall, percorrem a redacção do Vaulter, um jornal digital
recém-adquirido pelo seu império de comunicação. Um dos irmãos olha à sua volta
- observando dezenas de corpos debruçados sobre secretárias, inclinados perante
monitores - e comenta em surdina com o outro: "tantos falsos jornalistas,
todos a fingir que trabalham". O objectivo da visita é avaliar números -
tráfego, visitas, cliques diários - e decidir a viabilidade do site. Mas na
verdade a decisão já estava tomada, e o episódio emoldura-a entre dois
discursos. No primeiro, Kendall oferece à redacção um ramalhete de banalidades
motivacionais: garantias de que são todos "uma família" e de que o
Vaulter é o "futuro do grupo", promessas de aumentos salariais e
receptividade a "novas ideias", etc. O propósito é ganhar tempo,
retardando um processo sindical em curso, e permitindo que uma equipa a
trabalhar em segredo nos bastidores consiga assumir controlo dos arquivos do
site. O segundo discurso, mais breve, limita-se a informar centenas de pessoas
que acabaram de perder o emprego, e que têm 15 minutos para recolher os seus
pertences e sair do escritório. O site continuará a existir com o mesmo nome
num estado vegetativo, com apenas cinco estagiários sob a supervisão de um
único editor - e a espremer valor residual dos arquivos e da marca enquanto for
possível.
Através
de manchetes fugidias vistas em ecrãs (Is Every Taylor Swift Lyric Secretly
Marxist?) a série estabelece o Vaulter como um arquétipo familiar na paisagem
online: a fábrica de conteúdos digitais (concebidos menos para serem lidos do
que para gerarem partilhas) que vai conseguindo flutuar acima da linha de água
à custa de um generoso investimento inicial, de manipulações algorítmicas, e de
muitos dados massajados. Ao condensar este ciclo de vida num episódio de uma
hora, a série relega o estado semi-comatoso para fora do ecrã, e inverte o modo
mais comum como um "jornal", no sentido mais abrangente do termo,
costuma morrer, que é mais o menos o modo como Hemingway descreveu a falência.
No romance O Sol Nasce Sempre, alguém pergunta a um temperamental veterano de
guerra escocês chamado Mike Cambpell como perdeu todo o seu dinheiro. "De
duas maneiras", responde. "Primeiro muito devagar, e depois
subitamente".
Os
primeiros sintomas costumam afligir a indústria inteira, o que cria a falsa
segurança de um inexorável (e colectivo) "processo" de transformação.
A primeira coisa que desaparece é aquilo que custa mais (em tempo ou em
dinheiro): investigações longas, reportagens no estrangeiro, despesas de
viagem, etc. Depois, todos os atalhos se vão tornando mais curtos. Copy desks
desaparecem. As redacções começam a encolher por ordem cronológica: veteranos
aceitam rescisões amigáveis e as suas funções são redistribuídas pelas várias
castas temporárias - estagiários, colaboradores, freelancers. Reuniões
estratégicas começam a ser mais frequentes. A ordem das secções é reconfigurada
como um baralho de cartas. Reinvenções são anunciadas. Suplementos são
rebaptizados. Mudanças de tom são sugeridas: o jornal deve tornar-se mais
ligeiro, mais profundo, mais especializado, mais generalista, mais local, mais
global. Como um paciente terminal, o jornal começa a ser mais vulnerável a
charlatães e curas milagrosas. Várias estratégias são adoptadas, na esperança
de que alguma pegue (paywalls, doações voluntárias, fundações, parcerias)
Quando a calamidade seguinte acontece (uma crise financeira, uma pandemia) um
ou outro lay-off costuma preceder o inevitável despedimento colectivo,
noticiado provavelmente não em números mas em fracções ("um quarto dos
funcionários", "um terço da redacção"). Não é suficiente. As
"dificuldades de tesouraria" tornam-se crónicas. As pressões
produtivas aumentam em proporção inversa à disponibilidade de recursos: perto
do fim, é esperado que uma dúzia de pessoas consigam fazer melhor um trabalho
que antes era feito por meia centena. São precisos mais cortes. E aquilo que
acontece muito devagar pode continuar a acontecer muito devagar durante muito,
muito tempo.
O
modelo de produção de notícias extremamente lucrativo que durou até aos anos 80
pode ser hoje identificado como uma anomalia, resultado de um conjunto
intrincado de incentivos historicamente contingentes. Os jornais prosperaram
enquanto puderam ser essencialmente financiados por publicidade - enquanto
foram o mais eficaz elo de ligação entre anunciantes e consumidores. A internet
dinamitou este monopólio informal. Muitos anunciantes migraram para motores de
busca ou plataformas de agregação. Relógios de luxo e suplementos de dieta
perceberam que é mais eficiente esbanjar orçamentos de marketing no Facebook ou
no Instagram do que sepultá-los entre reportagens parlamentares.
Mas
o modelo específico do jornal "generalista" também permitia o
subsídio invisível do consumo em massa, pois fornecia algo para todos. Um
leitor podia ignorar todas as notícias nacionais e internacionais, e comprar o
jornal apenas para saber os resultados desportivos, ou consultar a programação
de TV, ou espreitar os anúncios de emprego, ou resolver os problemas de xadrez,
ou ler a banda desenhada. Os leitores que compravam o jornal por estarem interessados
em x financiavam indirectamente os leitores que compravam o jornal por estarem
interessados em y, e vice-versa. Aquilo que custava mais dinheiro
(correspondentes estrangeiros, jornalismo de investigação) podia ser financiado
por quem não lia. Colunas de opinião podiam ser financiadas por pessoas que
detestavam o que o colunista dizia. A internet não se limitou a criar a ilusão
de que tudo isto era, ou podia ser, gratuito: também fragmentou o conteúdo em
tantos nichos que nenhum consumidor precisa de financiar outros interesses que
não os seus.
A
paisagem mediática de hoje parece-se muito mais com a do séc. XIX do que com o
período de prosperidade pós-guerra em que se consolidaram não só a maioria das
normas como até o entendimento que ainda hoje temos do jornalismo. Um desses
recidivismos é a figura do magnata da imprensa, o mecenas cujo estatuto vem de
estar disposto a gastar dinheiro que mais ninguém tem para fazer algo que
talvez já não seja possível fazer: "salvar" o jornalismo, não apenas
como prática, mas como prática comercialmente lucrativa. Um por um, mais tarde
ou mais cedo, todos acabam por perceber que mesmo que um conjunto de golpes de
sorte e práticas brilhantes os tenham tornado ricos, esses golpes e práticas
não são transferíveis para todas as áreas, nem capazes de erradicar décadas de
hábitos complacentes, nem de alcançar o milagre alquímico de fazer com pouco
dinheiro um produto que custa muito dinheiro a fazer. Excepto aqueles que
decidiram financiar jornais por outro propósito que não o lucro (influência
política, vaidade pessoal, etc), todos vão perder o interesse, como perderam o
interesse noutras indústrias em declínio. A diferença de base é pouco mais que
retórica: os clubes de vídeo e os amoladores de facas nunca conseguiram convencer-se
a si próprios de que eram baluartes indispensáveis da democracia.
Primeiro
muito devagar, e depois subitamente. Tal como tudo o resto, também as
eutanásias dos jornais serão mediadas pelos filtros existentes - e serenamente
inseridas nas várias escaramuças culturais em curso. Alguns óbitos serão
aplaudidos outros lamentados (em função de serem "de esquerda" ou
"de direita", do Benfica ou do Sporting, etc), mas a maioria será
ignorada. Alguns chegarão ao fim como o Vaulter: com uma mão cheia de estagiários
e um último editor, que vai aproveitar o seu derradeiro espaço de opinião para
explicar solenemente que o "tribalismo" das "redes sociais"
e a "sanha persecutória" da "inquisição digital"
representam um problema gravíssimo, uma ameaça existencial à liberdade de
expressão. A coluna será publicada assim, não ironicamente, mas com total
seriedade, antes de alguém apagar a luz.
Mesmo com o semestre já findado, deixo aqui este guia bastante completo dos sinais usados na revisão de texto. O site Revisão para quê t...