Do ponto de vista editorial, considero que as edições aqui apresentadas, não só são incrivelmente belas, como também convidam leitores não familiarizados a quererem aproximar-se destas, sem nunca se terem cruzado previamente com tais autor/as. Os livros em causa foram editados a pensar numa panóplia de leitores (des)comprometidos. No que diz respeito à conceção gráfica, os livros apresentam um compromisso entre o texto e o livro-objeto, criando uma ponte onde o diálogo é em simultâneo verbal e visual. Ou seja, cada livro apresenta uma proposta do seu conteúdo com recurso a pequenas ilustrações ou cores.
Numa breve apresentação visual dos livros, vemos em Não serei eu mulher?
As mulheres negras e o feminismo um curioso desenho que lembra um grupo de mulheres com cabelos crespos movimentando-se, em traços negros. Em Memórias da Plantação
Episódios de Racismo Quotidiano, há um brilhante jogo com a escolha do papel prateado. O livro remete-nos para a Memória e para a Psicanálise, refletindo a nossa própria imagem, confrontando-nos com o eu/outro. No Problemas de Género, escolheu-se o laranja para ligar ideias um tanto controversas, porém decisivas no campo da identidade e do género na contemporaneidade. Optou-se uma vez mais por um traçado em preto, formando uma espécie de letra b, inicial do apelido da autora, marcando o seu peso nos estudos de género e teoria queer. Por fim, no Manifesto Contra-Sexual, obra deliciosa que propõe uma reflexão sobre o corpo, o desejo, o prazer e a tecnologia, onde as fronteiras e os territórios identitários/sexuais questionam a heteronormatividade enquanto regime político. Aqui escolheu-se a figura de um dildo pela sua carga simbólica, que retira o homem do centro, permitindo novas práticas e regimes de desejo.
As capas e as suas contracapas não parecem obedecer aos cinco elementos discutidos em aula. Nestes quatro livros, optou-se antes por uma linha minimalista, que se pode justificar pela agenda editorial da marca, visto que a mesma edita obras no âmbito das artes contemporâneas. Como podem observar nas imagens, as contracapas, ou ostentam um excerto escolhido à medida, ou uma ilustração que concorda com a capa. A biografia e a sinopse encontram-se escondidas na capa e na contracapa de cada livro.
Por último, a quinta escolha que quero partilhar convosco, trata-se de uma edição publicada em 2018, que comemora o bicentenário da obra de Mary Shelley, Frankenstein; or, The Modern Prometheus. A editora Penguin Books dispõe de um catálogo (Penguin Classics) onde obras canónicas são reeditadas. Cada obra apresenta a conhecida espinha ou lombada preta, assim como uma ilustração para a capa, sugerindo uma imagem comprometida com o enredo. Creio que esta decisão por parte da editora prende-se com a possibilidade de unir a/o leitor(a) ao texto. Ao oferecer uma espécie de acepipe, a editora abre o apetite à/ao leitor(a), convidando-a/o a querer mais. O livro em questão apresenta o título da autora, porém os restantes quatro elementos parecem estar em falta. Esta opção deve-se ao formato destas publicações, assumindo que tais nomes dispensam apresentações.
Numa nota pessoal, escolhi este exemplar pelo casamento entre a ilustração e o texto. A imagem representa fielmente a trágica condição da monstruosa criatura que é abandonada e rejeitada por todos. Esta encontra-se a olhar para o seu reflexo num pequeno lago, o que me remete de imediato para a autoperceção e construção da identidade e do eu.
Miguel A. Baptista
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