Joana Camões Pereira
Divagações sobre a recta final dum mandato
Já o contei e repito: no dia seguinte à eleição do papa Francisco, voltei a vê-lo na Basílica de Santa Maria Maior. Em Roma, vi um papa que andava como um homem comum – escrevi «ele anda como toda a gente». (Gosto de pescar raridades destas.)
Ontem fui ao lançamento do livro dum amigo, o fotógrafo Rui Ochoa. É um livro de assunto único sobre um homem num momento muito importante dele, durante o desafio para conseguir o desejo duma vida. Na segunda foto em que o vemos (na primeira está de costas), ele está em casa e acaba de saber que conseguiu. É um momento forte e um disparo certeiro do fotógrafo, mas o que me traz aqui não é este – é «o homem».
O livro é sobre um homem que dá conta das pessoas à volta: sabe-se da vida, como os outros se dão conta de nós com os olhos e com as mãos – os olhos que nos procuram, as mãos que pousam em nós. Na campanha presidencial de Marcelo, são esses «o homem» e «o momento». Ele farta-se de se dar conta dos outros na Bairrada com o leitão espetado e a entrar no forno. Marcelo torce o pescoço para olhar o assador e até aos adversários da campanha ele aproveita para lhes pôr uma mão no ombro! Eis o essencial que o livro de Ochoa nos mostra: o balanço duma presidência faz-se, claro, no fim do mandato e assim será com este.
Para já, sabemos que de comum ele tem pouco e que ele tem um interesse comum pelas pessoas – ambas são raridades num presidente. (Pode ser o começo duma bela não sei o quê.)
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