1. Uma disciplina eminentemente prática. O docente fala do que sabe e lhe interessa, mas desafia-vos a fazerm projetos acerca do que vos interessa. Por razões óbvias (o tempo), o docente tem os pés no passado, é um cidadão do século XX, os discentes são cidadãos de pleno direito do século XXI. Reconhecer este conflito (no bom sentido da palavra: pessoas interessadas e interessantes, mas com interesses distintos, quiçá opostos) é útil, estimulante, produtivo. Entrementes, com a pandemia, estamos de novo a coxear: em casa, por zoom, sem convidados para darem masterclasses, sem visitas de estudo. A ver vamos.
E, importante, a prioridade (editar é escolher) é pouparmos as energias. Se alguém sentir que está em esforço, sff diga.
2. Exercício zero:
2.1. Solução (ou nem por isso):
Eram Saramago e Lobo Antunes, dois autores portugueses (e com sucesso internacional) cujo estilo e cuja voz são mais reconhecíveis. Saramago criou (tanto quanto sei) o estratagema pedagógico de, nos parágrafos longos com diálogo e narração, usar as maiúsculas para indicar a mudança de personagem. O resto já era prática dos escritores barrocos latino-americanos, mas as maiúsculas são recurso dele. Pelo menos, foi nele que eu (um leitor atento mas não absoluto) vi pela primeira vez este tão simples e excelente recurso, que tem o condão de tornar o texto logo mais legível. Lobo Antunes foi, quem em língua portuguesa, melhor interiorizou as experiências de William Faulkner. É típico dele o parágrafo de memória, com pormenores ora ternos ora sórdidos, intervalado por uma frase de outra pessoa (fantasma ou real) que funciona como um refrão, sendo esse discurso direto indicado duplamente: com travessão e um espaço francamente maior que o convencionado.
2.2. A prova cega éum bom exercício. O objetivo não é «acertarmos» para ganhar um qualquer concurso, é apurarmos o nosso ouvido. Como podemos ser escansões se nada percebermos de vinhos? Como podemos achar um texto bom ou mau, publicável ou não publicável, se não treinarmos a nossa confiança? Repito: não se trata de acertar, os melhores erram. Estamos na indústria do erro e da pontaria de olhos vendados. Mas temos de confiar em nós, na nossa intuição.
2.3. Estou careca de conhecer gente que está numa atividade em esforço. Tentando não ser apanhada, porque sabe ser uma fraude. Todos nos sentimos uma fraude num ou noutro momento da nossa vida (a falta de confiança é prova de que estamos vivos), mas há gente que se nota que percebe de um assunto e outra que está à nora. Há gente que, para falar de um texto, para opinar sobre um poema, tem de ir ver a cábula, para saber o que dizer. Em Portugal, até há uma tradição de críticos que iam ver o que dizia o jornal estrangeiro, para depois poderem mostrar que estavam carecas (sim, também eles) de saber aquilo que nós, plebeus, desconhecíamos. Podemos fazer carreira enganando meio mundo, mas não aconselho - como com o retrato de Dorian Gray, acaba por se nos ver na compleição.
2.4. Não temos todos de saber de literatura. Mas um aluno de literatura ou alguém que ambicione ser editor literário tem de trabalhar o gosto, apurar a princesa e a ervilha que há em si. O mundo do texto e do livro é hoje suficientemente vasto para não podermos tocar todas as teclas. Mas alguma há que tocar. A vossa cultura livresca não tem de ser a minha, embora para mim seja estranho contactar com universitários que não leram Dostoievsky, Camus, José Gomes Ferreira (o poeta, não o tele-especialista em tudo). Mas compreendo: eu sou do século XIX (a minha formação tem mais em comum com as gerações anteriores por século e meio que com a vossa, adultos no século XXI. Compreendo. Acho estranho, mas compreendo. E espero que a compreensão seja mútua.
Agora, parece-me importante encontrar o cânone (o nosso, o «meu») em qualquer área. Sob risco de estarmos a tomar plástico por mármore. Quem nunca comeu um genuíno prato com
3. Mais propostas de exercícios:
1.
Conte
uma anedota breve (3-5 linhas) --> para quarta 17
2.
Qual
foi o último livro que comprou? Onde? (Feito na 1ª aula)
3.
Indique
a sua editora/livraria favorita. Diga porquê.
4.
Encontre
cinco grandes títulos
5.
Escreva
um comunicado de imprensa dum livro
6.
Encontre
um artigo interessante e de acesso gratuito online (e partilhe)
7.
Escreva
um livro para crianças. Regra: 10-22 pp., 1-3 frases por página (faça os
esboços do que um desenhador profissional fará depois)
8.
Escreva
uma entrada do programa (formato verbete, c. 350 palavras)
9.
[Continua]
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