segunda-feira, 19 de abril de 2021

 Exercício 26 - Nelson Manuel Alves e Silva


Título: O ardor do sol nos meus olhos

 

Destaque: Os meus olhos depressivos não toleram a bondade do sol, astro-rei

 

Escrevo estas palavras letra a letra na escuridão. E porquê? Porque a luz do sol dá-me enxaquecas. Sempre deu.

Ando eu não sei quantos meses à espera dessa luz que só começa na Primavera e, quando chega, como chegou este fim-de-semana, fico tão deslumbrado que me deito a perder.

Se calhar, abro de mais os olhos e deixo-me atingir pelo cortante dos raios que me furam a vista – a maldita “aura” que anuncia cada enxaqueca – e, passado um bocadinho, arrancam do meu olho direito uma dor debilitante que é como se estivesse a ser apertado num torno.

A única coisa que posso fazer é deitar-me na escuridão, protegido da luz e do barulho e do frio, esperando que o sono e os vómitos tenham pena de mim.

É assim desde os meus 11, 12 anos. Passou da minha mãe para mim e de mim para a minha filha Sara. Não há nada a fazer.

Mas a cabeça também não ajuda. Por que é que o ser humano é incapaz de ter uma doença ou uma dor sem arranjar uma maneira de conseguir sentir-se culpado por ela?

Somos ajudados pelo nosso pendor para o melodrama. Eu aqui, por exemplo, vejo-me aflito para não fazer como o frei Hermano e não me entregar todo à ideia que as dores que me causam a luz do sol são causadas pelo desejo que sinto por ela.

Sou ferido pelo que mais me atrai. É o brilho que me faz abrir os olhos que os expõe à queimadura fatal da luz.

Raios partam o talento que temos para transformar qualquer dor em castigo por um prazer qualquer que conseguimos roubar ao mundo.


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