10.2: Edição: Arte ou Ciência?

Manuel Afonso

Na sequência do desafio feito em aula, escrevi uma pequena nota (ou verbete) sobre um dos tópicos do Programa. Aqui o deixo para leitura, opinião e crítica de todos e todas.

Sem conhecer o mundo da Edição senão como leitor - e exceputando algumas incursões muito amadoras, em que tive de editar textos em outras áreas de actividade - arrisco-me a dizer que, não sendo nem uma Arte nem uma Ciência, a Edição terá algo de ambas. Aliás, isto é verdade, penso eu, para qualquer actividade humana minimamente complexa. Ao contrário do que é comum acreditar-se, Arte e Ciência não estão nos antípodas uma da outra e, ainda que sejam campos claramente delimitados, cruzam-se. Um bom pintor deve ter noções de óptica ou sobre a forma como se combinam os pigmentos, o que envolve conhecimentos de Física e de Química. Tal como deve ter algumas noções de anatomia. Por outro lado, não raramente os biólogos e zoólogos são fotógrafos ou ilustradores, técnicas que são essenciais para registar e divulgar as suas observações, ainda que as identifiquemos com o terreno das artes. Além disso, a Ciência vive em parte da imaginação e da intuição, que são essenciais à formulação de hipóteses e à elaboração de teorias. Pelo que até a Arte tem algo de Ciência e vice-versa.

Se este cruzamento existe entre estes dois pólos supostamente opostos do conhecimento, mais existirá em todas as restantes áreas do saber ou da actividade humana - seja o ensino, a política ou o desporto. Imagino que na Edição o mesmo se verifique. Ainda que não seja uma Ciência, como a Física ou a Biologia, terá certamente aspectos em que a descoberta de tendências objectivas e a previsão de resultados com base no estudo destas tendências sejam possíveis e úteis. Sem ser uma Arte, terá também necessidade da imaginação e da intuição  - da procura de caminhos subjectivos na tentativa de comunicar com os outros. Por isso, penso que, aqui como em quase tudo o resto, o importante é não se ser demasiado unilateral nas definições e manter-se a mente aberta o suficiente para nos socorrermos, a cada momento, do melhor que cada actividade humana tem para nos oferecer.