segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Publicando The Great American Novel (reflexão sobre um dos tópicos do programa)

 


J. W. DeForest descreveu, em 1868, o Great American Novel (GAN) como uma obra literária ainda por editar que seria the picture of the ordinary emotions and manners of American existence”. Desde então, muitos foram os romances declarados o GAN e ainda mais foram os autores que o tentaram escrever. Mas se o conjunto dos cidadãos dos Estados Unidos é uma fusão de nacionalidades e culturas, será um único livro capaz de captar a experiência da vida americana de toda a população? E dizer que algum já o fez não excluirá as vivências de todos os americanos que não se revirem nessa narrativa?

Uma obra recente da cultura pop norte-americana argumenta que a designação “Great American” (utilizada em inúmeros contextos e não apenas no do GAN) é discriminatória: na canção The Last Great American Dynasty, Taylor Swift relata como em 1954 Rebekah Harkness foi culpada pela sociedade pela morte natural do seu marido multimilionário e herdeiro da Standard Oil. Consequentemente, foi acusada também de acabar com a última dinastia “great American”. E porquê? Porque Rebekah era uma mulher pouco convencional, considerada doida nesses tempos extra sexistas por se divertir do mesmo modo que os homens da alta sociedade, sem pudor.

A crítica que Swift faz é que a definição de uma grandeza americana que termina com a morte de um homem branco rico, em vez continuar viva na figura da sua viúva (nascida num meio de classe média, anteriormente divorciada e “malcomportada”), é uma definição que engloba e elogia apenas a experiência de uma pequena parte da população americana e desdenha e invalida as restantes. A opinião do público em relação à vida de Rebekah e a comparação da sua pessoa com outros que pouco se lhe assemelham não ditam o verdadeiro valor dela enquanto americana.

Do mesmo modo, nunca poderá haver apenas um único Great American Novel (ou um que represente cada geração de americanos), pois deixaria de lado a experiência americana de uma grande maioria dos cidadãos e desvalorizaria romances que retratassem outras realidades também muito americanas. Não é por acaso que a maioria dos grandes candidatos a GAN foram escritos por homens brancos, e temos de parar de confundir grandes romances com obras capazes de oferecer representatividade a toda uma nação.

Ana Filipa Leite

(imagens retiradas daqui e daqui)

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