Daniel Regis
Cada vez mais estou me inserindo e pesquisando sobre o mercado editorial. Entendendo o que faz cada função, quem são as pessoas conhecidas do meio, os editores, preparados, revisores e, bem, o tópico do meu texto, os tradutores. Assim como alguém que estuda roteiro de cinema e, a partir daí, consegue identificar todos os atos de um filme, eu comecei a enxergar as entrelinhas que tem em cada livro que eu leio.
Quantas vezes você pegou um livro lançamento super hypado, que a editora se matou para conseguir publicar no mesmo período que o lançamento original, e nem leu qual era o nome do tradutor? Ele está lá atrás da folha de rosto, junto com o nome do autor e o nome do livro, mas várias vezes nem percebi que tinha alguém lá. Um trabalho tão importante quanto a escrita do próprio livro pelo autor, mas que muitas vezes é tão conhecido pelo público quanto um ghost writer.
Se não fosse pelo trabalho dos tradutores, precisaríamos aprender grego antigo para estudarmos as ideias de Sócrates e Platão. Teríamos que nos deitar em dicionários poeirentos para apreciar uma obra de Shakespeare. Ou até, se quiséssemos que nossos próprios textos e livros fossem lidos pelas pessoas mundo à fora, teríamos que enviar uma gramática da língua portuguesa junto. Não é atoa que um dos maiores escritores portugueses disse: “São os autores que fazem as literaturas nacionais, mas são os tradutores que fazem a literatura universal.” Saramago sabia da importância dos seus colegas de casa para espalhar o conhecimento pelo globo.
Até para coisas além da literatura, como uma etiqueta de camisa, um manual de máquina de lavar, a descrição de uma embalagem de shampoo, tantas coisas do cotidiano que precisaram passar pela mão de um tradutor e nem nos damos conta.
Na verdade, tem momentos sim que os tradutores são procurados e lembrados: quando se tem erros na tradução. Chega a ser raro as vezes que alguém elogia a tradução de um livro. Normalmente, as pessoas já pensam nas obras traduzidas como se elas tivessem sido escritas em português direto no original, como se fosse um livro nacional, mas é justamente ai que se vê uma boa tradução. Porém, a maioria das vezes que uma tradução é “chamada para a mesa”, é quando ela é ruim, assim como o meu exemplo porco de “bring to the table”.
Entretanto, creio que com as redes sociais os tradutores estão conseguindo se mostrar mais presentes nesse mercado e nesse meio e, junto com, ou até, por conta disso, os leitores estão se importando mais com o trabalho feito pelos tradutores. Estão abrindo os olhos, lendo o roteiro e enxergando que, em um livro, existe muito mais além da história.
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