(E uma vez mais - rever é sempre preciso, mas eu acho que já não preciso - coloquei este texto sábado... mas no blog errado.)
1. Adonde o leitor?
Anteontem não cumpri (ou, como manda o eufemismo, descumpri) o princípio que me impus: se a aula for longa, fazer uma pausa para deixar respirar. Peço desculpa. Esqueci também o marcador, pelo que não usei o quadro, o que nem tem tanto mal, pois assim quem ficou em casa e quem foi à aula ficou mais em pé de igualdade. É uma chatice para mim servir dois senhores, os zooms e os presentes, e a manta acaba ficando curta de um lado ou de outro, mas até acaba de rimar com a natureza da edição de texto: sempre a servir vários senhores, a falar com quem está perto e com quem está longe, com os interessados e com os indiferentes, tentando falar com UM LEITOR que só existe em teoria, até porque um dos ideias da leitura é que cada leitor real é um indivíduo autónomo. Embora hoje a venda de livros seja massificada - o best seller, ou besta célere, como dizia Alexandre O'Neill, é expressão disso - a natureza do livro (cf. ponto 2) era tratar cada leitor com o respeito que se tem a uma cabeça autónoma, não manipulável. Aliás, o ideal era mesmo que um leitor fosse (através da leitura) menos seguidista e manipulável.
(Suspiro.)
2. A contracapa
Vantagens da contracapa do Filipe: curta, adequada ao livro, diz coisas que não estavam ditas na capa. Falta apurar e ver se aquilo responde ao que se quer: comunicar/clarificar e se-duzir/trazer para o livro É uma regra que os poetas conhecem bem: quanto mais curto o texto, maior o rigor nos ínfimos pormenores.
Entretanto, terei sido só eu a ficar curioso de ler O Alienista, após o sales pitch (só quando cheguei a casa reparei que o foi) do Filipe? Mesmo que ele não tivesse intenção, o resultado foi esse. A boa publicidade é aquela onde o ouvinte não sabe que é publicidade. Melhor ainda quando o emissor não dá conta de estar a a fazer promoção. Brilhante.
3. O preço do vinho
Comprado na Makro, um bom comerciante aumenta o preço cinco vezes. É razoável ir até às sete. Muito mais é ganância - mas qualquer profissional sabe que é na garrafa que está o lucro. Produto menos perecível e com maior valor simbólico.
O break even no negócio do livro é parecido.
4. Uma bonita definição de editor
Um delegado do leitor junto do autor e um advogado do autor junto do leitor - formulou de forma lapidar Manuel Alberto Valente (em conversa privada), até este ano editor literário da Porto.
5. Clepsidra. Um pequeno jogo.
5.1. A técnica micaelense: confrontar fontes.
5.2. O problema é onde cabe melhor o verso? O que fez Pessanha? O que tencionava fazer? (Complicado, sobretudo com textos inacabados ou não fixados. Ver o caso de Alabardas, de Saramago, A Cidade e as Serras de Eça (durante décadas a versão publicada era a trabalhada pelo filho) ou outros textos póstumos.
5.3. Mas não demasiado póstumos, como no caso do pintor de O Amigo Americano - romance de Patricia Highsmith que deu pelo menos duas adaptações, numa com Dennis Hopper fazendo de Ripley, na outra com Malkovich. Um pintor que fingia estar morto e mudou o azul - ninguém percebe menos um restaurador-princesa. Alguém me lembre (ai, não devia dizer «alguém», é asneira anunciada) para falarmos da história da princesa e da ervilha na próxima aula).
6. Como era antigamente?
De estafeta a jornalista - pôr um pé na porta, aprender na prática a profissão.
7. 3h 40. Nem foi seca
Gostei muito da peça Última Hora. Sim, podia ser um bocadinho menos longa. O diálogo podia ser mais enérgico. Mas é um belo texto com belos intérpretes e uma cenografia funcional, «realista» que opta por não deslumbrar (há palcos que deslumbram, mesmo que nada se passe lá), antes servir o conjunto. As estrelas Miguel Guilherme e Maria Rueff são bem acompanhadas pelos que com eles interagem em palco, com óbvio destaque para o mau da filha José Neves, meu vizinho, mas com quem agora nunca mais falo.
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