Na sequência do jogo que fizemos na aula passada, interessou-me trazer para o espaço do blog uma discussão que se situa na confluência entre desenho e escrita, história e fábula, humor e política.
Nesta BD o "herói" Corto Maltese - concebido por Hugo Pratt - apresenta-se como cavaleiro da fortuna, um espírito livre que viaja pelo mundo, tendo apenas como casa um pequeno pátio secreto em Veneza, onde esta aventura tem início. É precisamente o modo como Corto Maltese se vê a si próprio que faz com que ele saia ileso das aventuras e desventuras por que passa. Nesta BD Corto vai até à Ásia em busca de um comboio carregado de ouro que partiu da Rússia Imperial em direção à Mongólia. Pelo caminho interpõe-se inúmeras seitas secretas e fações antagónicas que agem no sentido de recuperar para si o tesouro que antes pertencera ao Czar.
Outros dois intervenientes nesta aventura são o místico Rasputine, que acompanha o percurso de Corto e o Barão Ungern-Strenberg, um comandante de cavalaria cujo sonho seria restaurar o império mongol do seu antepassado Gengis Kahn. Para além deles existem outros generais e homens de guerra, mas também mulheres e sociedades secretas que vão conduzindo a estória, levando Corto a prosseguir os seus desejos num jogo de sedução e encantamento.
Assim, ao aparente cenário histórico-político subjaz um outro fantástico e humorístico. Toda a ação é seguida pelo leitor com avidez devido à espantosa qualidade dos desenhos a preto e branco de Hugo Pratt. O autor consegue, deste modo, comunicar ideias que estão ligadas a acontecimentos históricos, a uma geografia precisa, representar personagens que se afastam dos mais comuns estereótipos, sem que para isso abdique do recurso à imaginação, à fantasia e ao humor. É essa a principal lição que nos ensina este livro.
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