Hugo Alexandre Martins
«A busca da aceleração e
da velocidade tem influenciado sobremaneira a dinâmica dos filmes, a música, a
redação jornalística, levando à concepção – questionável, a propósito – de que
tudo [o] que é lento e por demais refletido não se ajusta aos novos tempos.»
Sugestionado pela frase em destaque, retirada do manual Além da Revisão, de Aristides Coelho Neto (2008), partilho convosco uma breve reflexão.
Em virtude da explosão tecnológica iniciada no dealbar do presente milénio, o ser humano, quando confrontado com uma atividade que dele exige algum vagar, tende a franzir o sobrolho.
Num cenário como aquele em que nos situamos, onde a
máxima «o tempo é dinheiro» se vulgarizou, parece-me inteiramente justificada
a asserção de que hoje, mais do que nunca, vivemos sob o manto da ditadura do
relógio. A confirmá-lo está o facto de, na hora de escolher um filme, a
duração do mesmo figurar como um dos critérios mais importantes de seleção, quando
não fator único. Economizar todo e qualquer nanossegundo – essa parca areia
que, por entre os dedos, se nos escapa – é, para um cada vez maior número de
pessoas, absolutamente vital.
Impõe-se agora uma questão: até que ponto este desejo
voraz pelo veloz tem introduzido no meio editorial mudanças significativas?
Num quadro como o atual, onde é prática corrente estimar o tempo médio de
leitura de um artigo online, atrevo-me a afiançar que o ato de ler, com
demora e sábia lentidão, está paulatinamente a cair em desuso. Aliás, o crescimento exponencial da
designada «literatura light», a que se tem vindo a assistir, é bastante
sintomático deste novo paradigma onde devorar é mais importante que degustar.
Estou em crer que, nos dias que correm, a maioria aprecia e julga a conveniência de um livro,
e não já a qualidade, em função, apenas e só, do número de páginas. A bitola
é outra. Pouco interessa o valor intrínseco de uma obra na sua inteira grandeza.
Todos nós vivemos reféns do pulsar Tempo, o maior e
mais antigo de todos os tecelões, para aqui retomar uma expressão de Charles
Dickens. Resta saber em que medida o gosto pelo prazer imediato, a que não nos
devemos vergar, tem produzido alterações de monta no universo da edição.
Cumpre lembrar, já a concluir, que "um bom concerto é feito
tanto de bons allegros quanto de dolentes adágios" (Pinsky apud
Coelho Neto, 2008, p. 29).
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