quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

6.2. O contrato do desenhador

Tagiane Mai

Assisti ao filme comentado pelo professor ontem (O contrato do desenhador, Peter Greenaway, 1982), cujo título também é um dos pontos do programa da disciplina. Em resumo, a narrativa se desenvolve em torno de 12 desenhos que o pintor e ilustrador Mr. Neville faz da mansão de Compton Anstey, sob contrato com Mrs. Herbert. Nesse contrato, Herbert acerta a encomenda de 12 croquis da mansão, a fim de presenteá-los ao marido, que seria muito orgulhoso da casa de campo da família. Neville, por sua vez, será pago em dinheiro e também recompensado com sexo, exigência esta que ele deixa explícita em uma cláusula do acordo. Porém, à medida que os desenhos vão sendo feitos, o desenhador se vê enredado numa intriga doméstica que também envolve traição e morte.

Para além dos aspectos que o professor já comentou em aula, a trama permite refletir sobre o papel da mulher na sociedade inglesa ― e não só na inglesa ― do século XVII. Nesse contexto, os homens exercem uma forte dominação sobre as mulheres, que estão restritas ao espaço doméstico e submetidas aos seus maridos, valendo-se de subterfúgios para alcançar o que desejam. Mais ainda, no contrato firmado entre as partes, o desenhador impõe, como pagamento, a satisfação de seus desejos sexuais, acabando por colocar Mrs. Herbert no mesmo nível do dinheiro que será pago a ele, como se o corpo da mulher fosse uma mercadoria passível de permuta.

A história também me propôs outro questionamento: quem, afinal, usa quem? Mr. Neville se aproveita de Mrs. Herbert ou ela e a filha é que na verdade se aproveitam do desenhador, tendo em vista os seus interesses pessoais? Estendendo essa reflexão para o meio editorial, poderíamos pensar: o editor confia no trabalho encomendado ao ilustrador, mas, por outro lado, este também precisa daquele, estabelecendo-se, então, uma relação de mão dupla entre eles. Quanto ao pagamento pelo serviço prestado, os contratos com os desenhadores/ilustradores seguem um modelo padrão estipulado a priori pelas editoras ou os profissionais podem incluir exigências específicas (dentro do razoável, claro)?

Enfim, o filme abre vários caminhos de análise, mas uma questão que se sobressaiu para mim é justamente aquela mencionada em aula: o poder dita as relações entre os agentes envolvidos. No momento de lidar com conflitos, a palavra final vai estar com o editor ou com quem detém money, power and women culture? 



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