Julia Roveri
Afastando-me um pouco da parte conceitual da edição (o que, sem dúvidas,
tem grande importância), gostaria de partilhar uma reflexão sobre o
aspecto humano – digo, afetivo – envolvido no processo
editorial.
Para já, sabe-se que o processo de editar um livro implica diversas
dúvidas e escolhas, e que a intenção de todos os envolvidos (capistas,
revisores, orelhistas, equipe da gráfica, entre outros) é sempre encontrar as
melhores soluções para cada obra. Entretanto gostaria abordar especificamente
a dinâmica editor-autor, que muitas vezes é tão prolífica quanto
delicada.
Esta troca com o escritor pode ser muito heterogênea: há autores que
demandam mais do editor quando têm certa insegurança em seu texto. Neste caso,
é comum que estes solicitem com mais frequência a opinião ou a intervenção do
editor, muitas vezes necessitando de um acompanhamento mais próximo sobre cada
capítulo ou trecho da obra. Em outros casos, esta insegurança não paira, mas o
autor confia plenamente no editor e dá “carta branca” para que ele possa fazer
ou sugerir quaisquer modificações no texto. E há ainda os escritores que, por
terem muita convicção em seu trabalho, já o terem relido bastante e pedido a
opinião de amigos anteriormente, resistem diante de sugestões editoriais ou de
pequenas correções. Pode ser também que a postura do autor mude ao longo do
processo de edição. Se este for o primeiro livro do autor no prelo, creio que
as características desses breves “perfis gerais” também se intensificam devido
à ansiedade da estreia.Ora, o livro, apesar de ser um produto comercial, é
muito mais do que isso por conter muita energia, ponderação e principalmente
afeto por parte do autor.
Para arrematar as ideias aqui colocadas, creio que uma das
qualidades mais preciosas para um editor é a sensibilidade – não só a
literária, para identificar obras e trechos relevantes – como também a
afetiva, ou seja, a sabedoria para lidar com a subjetividade das pessoas
envolvidas nas diversas partes da cadeia de produção de um livro. É
preciso que, para além das obras, o editor tenha olhos que saibam ler o
autor, seus desejos, intenções e temores literários, identificando
assim a melhor forma de extrair o que de melhor esta dinâmica pode oferecer,
bem como de manter e cultivar esta relação para que a parceria entre os dois
siga em frente.
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