quinta-feira, 15 de outubro de 2020

4. As sensibilidades do editor

Julia Roveri

Afastando-me um pouco da parte conceitual da edição (o que, sem dúvidas, tem grande importância), gostaria de partilhar uma reflexão sobre o aspecto humano – digo, afetivo  envolvido no processo editorial.

Para já, sabe-se que o processo de editar um livro implica diversas dúvidas e escolhas, e que a intenção de todos os envolvidos (capistas, revisores, orelhistas, equipe da gráfica, entre outros) é sempre encontrar as melhores soluções para cada obra. Entretanto gostaria abordar especificamente a dinâmica editor-autor, que muitas vezes é tão prolífica quanto delicada.

Esta troca com o escritor pode ser muito heterogênea: há autores que demandam mais do editor quando têm certa insegurança em seu texto. Neste caso, é comum que estes solicitem com mais frequência a opinião ou a intervenção do editor, muitas vezes necessitando de um acompanhamento mais próximo sobre cada capítulo ou trecho da obra. Em outros casos, esta insegurança não paira, mas o autor confia plenamente no editor e dá “carta branca” para que ele possa fazer ou sugerir quaisquer modificações no texto. E há ainda os escritores que, por terem muita convicção em seu trabalho, já o terem relido bastante e pedido a opinião de amigos anteriormente, resistem diante de sugestões editoriais ou de pequenas correções. Pode ser também que a postura do autor mude ao longo do processo de edição. Se este for o primeiro livro do autor no prelo, creio que as características desses breves “perfis gerais” também se intensificam devido à ansiedade da estreia.Ora, o livro, apesar de ser um produto comercial, é muito mais do que isso por conter muita energia, ponderação e principalmente afeto por parte do autor.

Para arrematar as ideias aqui colocadas, creio que uma das qualidades mais preciosas para um editor é a sensibilidade  não só a literária, para identificar obras e trechos relevantes – como também a afetiva, ou seja, a sabedoria para lidar com a subjetividade das pessoas envolvidas nas diversas partes da cadeia de produção de um livro. É preciso que, para além das obras, o editor tenha olhos que saibam ler o autor, seus desejos, intenções e temores literários, identificando assim a melhor forma de extrair o que de melhor esta dinâmica pode oferecer, bem como de manter e cultivar esta relação para que a parceria entre os dois siga em frente.

 

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