Karina Borges
Minha seleção de capas é composta por livros que jamais li, livros que conheço apenas por título e livros que, para além da leitura, renderam-me ótimas análises e discussões. Em todas as capas selecionadas, identifico ao menos um elemento que, talvez não seja determinante para torná-las geniais, mas que pode assumir um certo peso na apresentação da obra e na captura de atenção do leitor.
O que chamou minha atenção na capa de A amiga genial, de Elena Ferrante, foi a expressão no olhar da garotinha. Embora seja uma capa simples, composta apenas por uma imagem em preto e branco, os olhos da garota falam: olhos tristes e melancólicos, um olhar vago de quem espera por algo ou alguém.
Editor: Relógio d'Água - novembro 2014
A capa da edição italiana do livro Em outras palavras (In altre parole), de Jhumpa Lahiri, entra para a minha seleção, pois o capista, de forma bastante criativa, criou a arte da capa a partir do próprio título do livro: temos uma figura feminina diante de uma estrutura semelhante a uma parede/prédios, o conjunto de paredes é formado a partir da palavra italiana parole (palavras). Como resultado, tem-se a impressão de que a figura feminina está prestes a adentrar por essas paredes, como se ela estivesse a descobrir um novo mundo.
Editor: Guanda - 21 de Abril 2016
O Diccionario da linguagem das flores, de António Lobo Antunes, traz uma capa com fundo de cor sólida, deixando o protagonismo para o ramo, localizado a frente, composto por diferentes espécies de flores. Como resultado final, tem-se uma capa harmoniosa em que os elementos (flores) não disputam entre si, mesmo que cada um traga uma cor diferente. A fonte clássica utilizada no nome do autor e no título do livro também contribuiu com o efeito de naturalidade.
Editor: Dom Quixote - outubro 2020
O livro infanto-juvenil, Mortina, de Barbara Cantini, traz uma série de elementos e cores que casam bem com o universo fantástico da história do livro. Um aspecto interessante da capa é que as personagens ocupam um segundo plano, pois no primeiro temos uma espécie de moldura criando no leitor o efeito de observar as personagens de fora. Outro fator positivo nesta arte é que embora as personagens sejam sobrenaturais (fantasma e morto-vivo), elas possuem expressões simpáticas o que demonstra certa atenção, uma vez que o público desta obra é composto por crianças e adolescentes.
Editor: Bertrand Editora - outubro 2020
A capa de Soif, de Amélie Nothomb, traz a fotografia da autora: o foco está em seu rosto inexpressivo e em seu traje exagerado. Esta poderia ser uma boa capa para uma biografia, mas não é o caso. Soif conta a história de Jesus Cristo, a partir da perspectiva do próprio Cristo. Logo, colocar a foto da autora na capa pode ser um artifício para captar a atenção do leitor de imediato, foi o que ocorreu comigo, tendo em vista a fama e o prestígio que Nothomb possui na literatura contemporânea de expressão francesa .
Editor: Albin Michel - 21 de agosto 2019
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