Daniel Regis
Já faz alguns anos que descobri a existência de leitores digitais, como o Kindle, Kobo e outros, e a sua descoberta foi como se uma venda, que nem sabia da existência, tivesse se desmanchado diante de meus olhos.
“Mil livros na palma de sua mão? Livros mais baratos que os físicos? Posso levar para qualquer lugar sem grandes problemas de espaço e peso? É um smartphone da literatura.” Creio que deve ter sido o mesmo sentimento para os amantes de música quando foi lançado o iPod. Porém, ao mesmo tempo em que achei incrível, fiquei com uma pulga atrás da orelha.
Veja bem, eu sou o tipo de pessoa que gosta de pegar o livro na livraria para escolhê-lo e, se você que está lendo está fazendo o curso de Mestrado em Edição de Texto, imagino que sinta o mesmo que eu. O livro é friamente selecionado entre tantos dos seus iguais. Vejo se há ranhuras, amassados, se estão envoltos com plástico. Faço isso porque quero que os meus livros sejam os mais perfeitos possíveis. Além disso, quero ter a sensação real de lê-los. Poder tocá-los. Não é simplesmente passar as paginas, mas no meio da leitura dar uma olhada nas orelhas, na contracapa, na folha de rosto, passar as páginas pelos meus dedos até o final, mas sempre com o cuidado de não ler a última frase. Quero fazer uma livraria, uma biblioteca particular na minha sala, como poderia fazer isso com um Kindle?
Tudo isso me veio à mente quando descobri os e-readers.
Continuei assim, com meu preconceito por meses. Acreditei que o e-readers nunca poderiam substituir um livro físico. Até que ganhei um de presente. E todas essas minhas ideias desapareceram.
Bom, quase todas.
Veja, agora eu tenho diversos livros no Kindle e, como são apenas dados numa telinha iluminada, seus tamanhos equivalem ao tamanho do seu e-reader, assim, desafiando Einstein e mostrando que dois livros podem sim ocupar o mesmo espaço. Sendo brasileiro, sair de meu país e vir para Lisboa teve uma tarefa árdua: escolher quais livros físicos iriam vir comigo. Infelizmente a resposta não era “todos”, e trouxe cerca de 7. Então o Kindle me salvou de certa forma, deixando eu trazer quantos livros eu quisesse, sem ocupar maior espaço na mala. Então, pode-se perceber como minha perspectiva quanto as funcionalidades do Kindle me saltam aos olhos hoje, e não vejo problema nenhum com a sua leitura, mas ainda assim, eles não tiram a sensação que um livro físico projeta. Como jornalista, me vejo obrigado a fazer uma relação dessa questão com os jornais e revistas físicos e digitais.
Com a era da informação na velocidade da luz (se sua conexão não for a do Brasil), parece ridícula a ideia de demorar um dia inteiro para saber o que aconteceu ontem. Saber o resultado de uma partida de futebol no dia seguinte, e assim por diante. Porém, vou fazer o advogado do diabo aqui e defender o jornalismo impresso também. Com certeza as matérias impressas, por mais que exista a demora de publicação, tem muito mais cuidado para serem feitas e são mais profundas que simples notas postadas o mais rápido possível para se conseguir mais cliques que o site concorrente. Além do mais, o jornal físico tem um charme que nenhum digital conseguiu tirar até hoje. Então eu vejo os dois lados da moeda, tanto no jornalismo quanto nos livros.
Se os e-books vão acabar financeiramente com os livros físicos assim como os sites de notícia e redes sociais estão acabando com o jornal impresso? Não sei dizer, o que sei é que cada formato tem sua vantagem e característica que me agrada, e fico feliz hoje de utilizar os dois, mas continuo querendo construir uma biblioteca em minha sala.
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