João Sardo Mourão
Muitos dos livros de Filosofia que tenho e que estão traduzidos para português, sobretudo se atingiram o estatuto de 'clássicos', motivado pela data em que foram escritos ou pela qualidade do que é lido (o primeiro critério costuma ser o preferido), entram na coleção das edições 70 ou na coleção de textos clássicos da Fundação Calouste Gulbenkian. Os restantes, escritos em inglês ou traduzidos para a língua inglesa, são editados por grupos editoriais associados a universidades, como a Oxford University Press ou a Harvard.
Ao início, as capas das edições 70, e em menor parte as da FCG, produziram em mim alguma irritação, pela falta de variedade no design escolhido ou pelo pouco esforço em articular uma capa com o texto que deveria, em simultâneo, ocultar e expor. Mas a imagem de marca da editora, e daquele conjunto de textos em particular, não é de desvalorizar. Quanto entro numa livraria que não uma Almedina ou uma Bertrand (ou outra dessas onde estas edições estão mais concentradas) e vejo o jogo de cores simples na lombada que espreita na prateleira, identifico de imediato um livro que pode ser relevante para a minha área de estudos, e que oferece uma tradução que é talvez inédita de um texto a que não terei acesso na minha língua se não por alí.
As edições em inglês que encomendo online obedecem a outros critérios, pois na Amazon ou na Book Depository não vejo a lombada dos livros, nem dou especial atenção à capa dos mesmos. A variedade é outra e o critério torna-se, na maioria das vezes, um único: o preço. Por isso, quando olho para a minha estante, embora haja um ou outro padrão no design destas edições, há também alguma diferença que permite identificar qual o livro para que olho sem que tenha de me aproximar. E, contudo, as capas e contracapas não são mais eficazes, no que me parece ser o objetivo de cada uma, que as das edições 70.
Sem me querer alongar muito, pois o propósito deste post era somente responder a um dos desafios desta semana, escolhi partir de um texto que estivesse a ler neste momento, Intention, editado pela Harvard University Press, da autoria de G. E. M. Anscombe, para tentar fazer uma capa e uma contracapa. É um pequeno texto que tem ganho mais importância nas últimas duas décadas, apesar de ter sido primeiro editado em 1957. Não existe ainda uma tradução para o português, embora seja provável que a estejam a trabalhar no Porto, onde foi traduzido o artigo que deu origem a este livro. Escolhi este livro como ponto de partida para o desafio de desenhar uma contracapa porque acho a edição da Harvard um tanto preguiçosa e desmazelada. Preguiçosa porque até o título é rico: Intention. Podia ser um livro no género de crime em vez de um livro académico e continuaria a ser uma boa escolha. E, contudo, nada na capa tira proveito disto. Preguiçosa, também, por ignorar a importância que Anscombe ganhou nas últimas décadas, e que seria reconhecida pelo público alvo desta edição e não só. Além da variedade do seu trabalho, escreveu textos polémicos para o seu tempo e para o nosso, sobre assuntos que continuam a ser um íman para o público em geral, espelho do conservadorismo católico extremo da autora. Desmazelada, porque a contracapa é uma amálgama de críticas (todas dadas por académicos conceituados, é certo) do livro, que já contém a mais importante destas na capa, dedicando uma só linha à apresentação da autora: "G. E. M. Anscombe is Professor of Philosophy, Emerita, at the University of Cambridge." É uma linha cá no fim! Pensei que talvez fosse uma exceção, mas dos 'clássicos' que tenho comigo, em inglês ou traduzidos para inglês, e publicados por grupos associados a universidades, o estilo é o mesmo.
Já tinha dito num post anterior que isto me incomoda, pois Filosofia parece-me ser um campo das humanidades onde os preceitos que servem a publicações técnicas de outras áreas poderiam ser dispensados em favor de algo mais criativo. Não que não haja problemas e limitações em alguns casos, muitos deles que me escapam, ou que eu tenha conhecimentos na área editorial que me permitam propor algo melhor e viável. E a verdade é que no exercício de fazer uma capa e uma contracapa para este livro, encontrei as minhas próprias dificuldades. Usando o word, porque não sei o que é que se usa para este efeito, tentei ocupar um espaço limitado com coisas a mais. Gosto de uma capa limpa - nome da autora, título e nome ou símbolo da editora -, e por isso não quis lá pôr a avaliação de ninguém. Na contracapa, coloquei um pequeno texto acerca da obra, algo que a edição da Harvard não tem, como não o têm a maioria das edições académicas. Apesar de tudo, é um livro técnico, de leitura difícil, pelo que tentei tornar o seu propósito tão claro quanto possível. A orientação do texto foi escolhida de modo a não ocultar a imagem escolhida - The Cardsharps de Caravaggio (circa 1594) -, uma cena que se liga facilmente ao título e deixa o suficiente para o leitor adivinhar. E, por fim, escolhi a crítica mais relevante, e redigi um pequeno texto sobre a autora. Mas eis que surge o problema. Onde os colocar? Não sei se a proporção do texto é a correta ou não, e se haveria mais espaço disponível do que aquele que lá deixei. O que está escrito em cada rectângulo é só uma possibilidade editável. Por mim, imagino duas orelhas onde pôr estas informações, a par de códigos ISBN e detalhes sobre a pintura escolhida, ou até uma cinta onde a crítica se apresente ao leitor em primeiro lugar, já que cumprirá melhor o seu efeito se estiver à vista. Deixo aqui a imagem como sugestão e como pedido de partilha da vossa opinião sobre a melhor solução.
P.S.
Fica uma outra sugestão, após me ter informado um pouco mais acerca das possíveis dimensões.
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