Sobre capas,
Inês Carvalhal
Sempre me foi difícil escolher os meus top 3, 5, 10... Por isso, de forma geral, faço só um exercício de abstracção em que fecho a cabeça e tento focar as imagens mais palpitantes. Aqui vai.
Old but gold:
Foram lançados no ano passado dois livros cujas capas achei magnificas. Um pela Glac Edições - uma reedição da tradução original das Edições Antipáticas - Um piano nas barricadas de Marcello Tarì cuja capa é feita de lixa.
O outro, pela Orfeu Negro, Memórias da Plantação de Grada Kilomba, com uma capa feita de papel prateado espelhado.
Uma capa espertinha:
Considero "capas espertinhas" aquelas que dão uso do grafismo e do próprio suporte, criando uma capa apelativa, sucinta e cativante. É o caso o livro Preto - História de uma Cor de Michel Pastoureau editado pela Orfeu Negro, cuja capa é preta e a impressão preta também. Apesar da editora ter também publicado a história de outras cores com o mesmo esquema, acho que este caso é o que resulta melhor.
Brincar à irreverência:
Cabem neste grupo livros cujas capas apesar de terem um grafismo simples e neutro, são marcadas por intervenções posteriores à impressão do livro, tornando cada livro num objecto único. É o caso da edição do livro Aos nossos amigos do Comité Invisível pelas mãos da editora N-1 Edições, que viu a sua capa ser queimada com um maçarico:
Como é também a edição portuguesa do Um piano nas barricadas pela Edições Antipáticas que pintou com spray todas as capas da tiragem:
Por último escolhi o livro Kathy Acker (1971-1975), uma colecção dos escritos e diários que Kathy Acker escreveu entre 1971 e 1975, recolhidos, montados e minunciosamente editados pela Editions Ismael. Este livro é uma escolha por, para lá da bela capa, ser o exemplo incrível de livro-objecto, onde cada página é desenhada com o mais ínfimo cuidado e onde nem mesmo o processo de encadernação é deixado para trás.
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