quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Sobre capas

 Sobre capas, 

Inês Carvalhal

Sempre me foi difícil escolher os meus top 3, 5, 10... Por isso, de forma geral, faço só um exercício de abstracção em que fecho a cabeça e tento focar as imagens mais palpitantes. Aqui vai.

Old but gold: 

Foram lançados no ano passado dois livros cujas capas achei magnificas. Um pela Glac Edições - uma reedição da tradução original das Edições Antipáticas - Um piano nas barricadas de Marcello Tarì cuja capa é feita de lixa.

 O outro, pela Orfeu Negro, Memórias da Plantação de Grada Kilomba, com uma capa feita de papel prateado espelhado. 


Como tudo se reinventa e nada se perde, estas duas capas bonita e conceptualmente coincidente com o seu conteúdo oferecem ainda uma homenagem à Internacional Situacionista: os primeiros doze números da revista original tinham as suas capas feitas de papel espelhado de diferentes cores e o livro de Guy Debord e Jorn Asger, Mémoires: Structures Portantes d’Asger Jorn, tinha a capa feita de folha de lixa (e uma edição posterior cuja capa era uma colagem de laminas de barbear). 




Uma capa espertinha:

Considero "capas espertinhas" aquelas que dão uso do grafismo e do próprio suporte, criando uma capa apelativa, sucinta e cativante. É o caso o livro Preto - História de uma Cor de Michel Pastoureau editado pela Orfeu Negro, cuja capa é preta e a impressão preta também. Apesar da editora ter também publicado a história de outras cores com o mesmo esquema, acho que este caso é o que resulta melhor.



Brincar à irreverência:

Cabem neste grupo livros cujas capas apesar de terem um grafismo simples e neutro, são marcadas por intervenções posteriores à impressão do livro, tornando cada livro num objecto único. É o caso da edição do livro Aos nossos amigos do Comité Invisível pelas mãos da editora N-1 Edições, que viu a sua capa ser queimada com um maçarico: 


Como é também a edição portuguesa do Um piano nas barricadas pela Edições Antipáticas que pintou com spray todas as capas da tiragem:


Um objecto bonito:

Por último escolhi o livro Kathy Acker (1971-1975), uma colecção dos escritos e diários que Kathy Acker escreveu entre 1971 e 1975, recolhidos, montados e minunciosamente editados pela Editions Ismael. Este livro é uma escolha por, para lá da bela capa, ser o exemplo incrível de livro-objecto, onde cada página é desenhada com o mais ínfimo cuidado e onde nem mesmo o processo de encadernação é deixado para trás. 




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