Francisco Rúbio
A cerca de 232.777778 graus celsius começamos a olhar apenas para imagens transformando-nos em seres obedientes, passivos e cinzentos. O ecrã na parede viajou para a nossa mão. Quanto tempo faltará para penetrar a nossa mente?
“Se queremos ver uma imagem bonita, vamos ao museu. Se queremos ler um livro não precisamos de imagens bonitas. Sempre quis que a Bazarov fosse um projecto sóbrio onde o texto fosse o protagonista.” A letra como imagética ou uma proposta para o regresso ao futuro.
Como leitor estou como Camilo Castelo Branco «sinceramente, não sei corrigir-me do
vício das divagações». Assoberbado pelo síndrome das múltiplas abas, tento apagar vários fogos, ao invés de os produzir. Apesar de possuir toda a informação (ao contrário de Passos Coelho que "não tinha consciência que essa obrigação de pagar impostos lhe era devida”) para combater estas formas de multitasking que nos reduz, acabo por cair na armadilha dos modos contemporâneos. Leio o editorial de um amigo a pedido, passo os olhos por uma crónica breve do The Intercept brasileiro, persigo as edições de Baldwin na Alfaguara, oiço uma Garganta Solta sobre o hip-hop português, abro o Clepsydra de Camilo a meio e paro.
Ler. Necessito ler em voz alta o seu poema: Branco e Vermelho. Será isto um leitor?
Um viajante desorganizado que se permite habitar imaginários diversos. Leio e anoto, sublinho e penso, junto e termino a jornada escrevendo. Leitor e escritor misturam-se, transformam-se e surge um outro leitor.
Levado por uma mão a viajar pelo mundo mais espesso e privado de tantos autores. Escrever é coisa séria, como diria Matilde Campilho. E ler coisa séria será, acrescentaria eu.
“There must be something in books, something we can’t imagine, to make a woman stay in a burning house; there must be something there. You don’t stay for nothing.”
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