terça-feira, 1 de dezembro de 2020

0.2. Um mundo em mudança - ler clássicos é importante?

Filipe Heath

No primeiro dia de Dezembro a comunidade literária do Twitter, a minha rede social favorita, está com uma discussão muito interessante que originou num tweet de uma autora branca a atacar verbalmente uma professora negra que expressou o seu desconforto com a maneira como os clássicos muitas vezes racistas, homofóbicos ou com morais retrógrados continuam a ser de leitura obrigatória nas escolas americanas. A professora defendeu que está na hora de mudança e a autora criou uma thread inteira essencialmente a ser racista (os tweets claramente já foram eliminados) simplesmente porque não concorda. 

Bem, ler clássicos é importante? Sem dúvida! Os clássicos podem informar-nos bastante no que toca ao nossa entendimento de literatura mas nós não precisamos de clássicos para entender literatura. No contexto escolar, é muito mais importante criar amantes da literatura e estudantes com pensamento crítico primeiro e posteriormente deixar esses leitores descobrir clássicos, se lhes interessar. 

Sinto que se deve ensinar Inglês nas escolas americanas (tal como se ensina Português nas nossas escolas) para que os estudantes nutram  um amor pela leitura e escrita nas suas vidas que os possam ajudar em todas as outras áreas e interesses do seu futuro. Afinal, a linguagem escrita é essencial para o nosso progresso. Para isso, não é necessária a leitura de clássicos com os quais os estudantes não se conseguem conectar. Esta linguagem presente nos clássicos muitas vezes é de difícil compreensão para os estudantes, logo, afeta a literacia dos mesmos e tem um efeito contrário: em vez de promover a leitura faz com que grande parte fuja aos livros por ficar com a ideia que os mesmos são "aborrecidos". 

Acontece exatamente o mesmo em Portugal e com o nosso currículo. No secundário foram poucos os meus colegas que leram os livros pedidos pelos professores. Porquê? Teria de se começar por algo mais simples. Não entrarei sobre o conteúdo destes clássicos ou não ser interessante porque isso é uma questão subjetiva. No entanto, sinto que muitos dos meus colegas teriam lido, e continuariam a ler até hoje, se os livros propostos não fossem tão intimidantes. 

A discussão no Twitter focou-se também na questão da lista de leitura ser quase sempre composta por autores brancos e o quão prejudicial isto é para estudantes de cor, onde os diferentes dialetos do Inglês ou diferentes línguas são o seu meio de comunicação principal. Se já é difícil para todos os estudantes lerem nesta era da tecnologia, porque é que o sistema educativo obriga a ler livros que não despertam nem um pouco da curiosidade destas crianças? 


2 comentários:

  1. Olá, Filipe, abordas várias temáticas interessantes neste verbete.

    Há um livro que se intitula de forma próxima à questão que lanças: "Porquê ler os clássicos?", de Italo Calvino e que recomendo uma ávida leitura. Há vários, bons, motivos e que o autor começa logo por enumerar (dez vezes).

    Na voracidade dos nossos dias, ler os vários volumes de "Crime e Castigo" parecem mais um plano para a reforma ou para umas férias ermitas, que por mais que queiramos, poderão até nunca surgir.

    Por fim, a discussão da renovação dos planos de leitura, com vista a mostrar o mundo não apenas como lugar para a branquitude, parecem-me urgentes.

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    Respostas
    1. Olá Francisco! Faço parte de um clube de leitura e este foi o livro escolhido para o mês de Dezembro e Janeiro. Vou começar a ler o livro este mês, que coincidência!

      Obrigado pelo comentário!

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