Francisco Rúbio
Sim, para oferecer à prima de 10 anos.
Descobri que da livraria “It´s a book”, na Rua dos Anjos, se pode dizer: Aqui é um bom lugar. Aconselhado pela livreira de serviço comprei este diário autobiográfico de Teresa Tristeza, personagem que nos leva por uma viagem ao mundo da adolescência, esse caldeirão de contradições. Com ilustrações simples, mas não simplistas, de Joana Estrela e texto de Ana Pessoa, acompanhamos a personagem principal pelos seus ambientes: na escola e em casa. Uma narrativa contemporânea onde se misturam o slang inglês com o calão português. Esta obra da editora Planeta Tangerina foi premiada com o Prémio Literário Maria Rosa Colaço em 2018 na categoria Literatura Juvenil. Os dilemas da jovem adolescente, Teresa, e os temas que leva para casa interrompidos por pequenos contos, mensagens de whatsapp com amigas e os descobrimentos próprios da idade. Angústias, desalentos, inícios amorosos, questões que surgem de ditados populares. Ideias esquisofrénicas que acompanham um tempo hiperestimulado e onde as regras veêm sempre em inglês. Imagens com cheiro a liberdade que respiram criatividade. Recortes de jornal, fotos polaroid misturados com representações de dispositivos tecnológicos tornam este livro um diário, ou uma ponte, analógica-digital.
Sim, é para oferecer à minha tia.
Sem ajuda do livreiro, perdi-me uma hora e tal na Tigre de Papel. Inspirado pela presença de Rumi - o poeta místico do Islão, um sufista pacifista e contemplativo, e talvez o sábio oriental mais reconhecido no Ocidente - no pensamento e obra de Afonso Cruz, decidi optar por esta edição curiosa da editora Maldoror. A imediatez das cores, a textura e os traços dos dervixes mevlevi dançando, transpirando leveza e movimento, despertam-nos para a capa ao longe. Os rubaiyat, tal como os haikus japoneses ou os sonetos ocidentais, são uma breve forma poética. No caso de Odes à Embriaguez Divina, Jalal Al Din Rumi dedica-se a falar do amor, da sabedoria e do vinho como matéria filosófica e una para a vida. Este livro transporta consigo toneladas de peso metafórico, visto que o álcool é proibido no Islão, e por isso a mensagem de Rumi pode ser interpretada até onde o leitor quiser. Um convite a parar, reflectir e sermos surpreendidos com modos de usar a vida que não nos estão próximos. Com os quais devemos aprender. Uma obra da responsabilidade (prefácio e versões) de mais um homem dos mil ofícios à volta do livro, neste inexacto mundo das ciências humanas, o angolano Zetho Cunha Gonçalves.
Sim, é para oferecer ao meu primo de treze anos.
Perante a pergunta do meu primo, durante um almoço de família: “Qual a diferença de uma ditadura de esquerda e uma de direita?”, tornou-se urgente a escolha de um livro que ajudasse o adolescente a compreender o que aí vem na próxima década política (ou não, esperemos). É assim a Ditadura é um livro da Orfeu Negro (da sua chancela mini), que me foi aconselhado na livraria Distopia. Publicado na década de 70, mas que não perdeu actualidade alguma, esclarece como funcionam os regimes onde não há eleições livres, liberdade de expressão nem respeito pelos direitos humanos. Engana-se quem tome este livro como pueril. Esta obra infanto-juvenil lembra a fragilidade constante da democracia. As ilustrações de Mikel Casal - artista basco que nasceu em plena ditadura franquista- compõem um livro destinado a informar os votantes de amanhã sobre os verdadeiros perigos dos regimes (um bocadinho) menos democráticos: onde se ditam ordens sem espaço para porquês, onde se ditam regras, leis e censura ou onde se queimam livros como este.
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