terça-feira, 2 de março de 2021

Antevisão da aula 4

1. Dedicaremos uma boa parte da aula à tradução de Carver. Tentaremos, pela prática, chegar a algumas conclusões. 

2. Agora um exercício simples que alguns já conhecem. Pontue o seguinte trecho: 


«(…) na América surgiu logo a polémica pode rir-se com isto mas claro que sim deve-se até é a atitude cívica mais apropriada o complemento da resposta política e militar que os países devem ter para arrasar o Estado Islâmico lá onde falham as armas dos exércitos e as ideias dos políticos ao menos que ataquem os humoristas»


3. Do sucesso

 Há um admirável mundo novo por aí. Não é o meu, será talvez o de alguns de vós. Há muitos anos, salvo erro em 1998, sentei-me em Frankfurt à mesa - num jantar para o qual fui convidadopor uma amiga - ao lado de uma jovem checa que ganhara um prémio (uma ida à Feira de Frankfurt, precisamente) para jovens promissores no mundo da edição. Perguntei-lhe o que queria fazer e ela respondeu, contente: «Quero editar livros de gastronomia.» Fiquei abalado, porque naquele tempo eu pensava que a área mais nobre da edição era a literatura. E surpreendeu-me que alguém tão jovem fosse já tão pragmático e claramente sobrepusesse os Altos Valores Espirituais à ambição clara de ganhar dinheiro

Eu estava errado, ela estava certa. Nos anos seguintes, os livros de gastronomia disparariam, ao ponto de na montra de uma livraria de Hong Kong (estou a pavonear as penas, eu sei, ó pra mim tão viajado) só encontrar livros de gastronomia, quase todos de anglo-saxónicos. Sempre achei graça a Jamie Oliver ensinando os italianos a comerem pizza - vá lá, ainda não nos ensinou a comer jaquinzinhos, mas lá chegará um Chef Ramsay, um Anthony Bourdain, uma Nigella qualquer que o faça. 

(Curiosamente, este último parágrafo relaciona-se com a lição de Teoria em que Tony Montana explica ao amigo as regras da relação entre economia, poder e cultura.) 

O século XXI mudou as regras no mundo editorial, confirmando definitivamente (até ver) a língua inglesa como central e as outras todas como anãs periféricas, independentemente do número de falantes - podemos ver a analogia com o facto de - wikipediem, que não faz parte da matéria - as mulheres serem metade da humanidade mas, ainda hoje, vistas como minority

Tropecei nestes rapazes que passam para vídeo «o essencial» de livros que levariam um pedaço a ler. Para mim, é mais um passo no avanço dos bárbaros: a ascensão dos iletrados ao poder, e o dinheiro como medida única de «sucesso». Nos jornais e restantes media, vi esta mudança quando as notícias deixaram de ser sobre o prestígio do prémio e passaram a ser sobre a quantia. Isso fez com que a forma de um prémio ganhar nome passasse a ser estupidamente simples: basta o valor do prémio ser alto para logo lhe atribuirem valor.     

A mim arrepia um pouco. 


1 comentário:

  1. «(…) na América surgiu logo a polémica. Pode rir-se com isto, mas claro que sim, deve-se até, é a atitude cívica mais apropriada. O complemento da resposta política e militar que os países devem ter para arrasar o Estado Islâmico, lá onde falham as armas dos exércitos e as ideias dos políticos, ao menos que ataquem os humoristas»

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